A conhecer:
http://www.oalgodaonaoengana.com/
quarta-feira, dezembro 29, 2010
quinta-feira, dezembro 23, 2010
Doze memórias doze
Não é a memória que tropeça no poema
é o poema que emerge sempre
em viva voz da clara luz dos teus olhos
doze anos e doze poemas afins
doze memórias doze vinte cinquenta cem
os anos não importam
porque a memória resgata sempre
o vicioso poema – o teu olhar
à distância que nos separa
MG 2010
Não é a memória que tropeça no poema
é o poema que emerge sempre
em viva voz da clara luz dos teus olhos
doze anos e doze poemas afins
doze memórias doze vinte cinquenta cem
os anos não importam
porque a memória resgata sempre
o vicioso poema – o teu olhar
à distância que nos separa
MG 2010
quarta-feira, dezembro 22, 2010
quinta-feira, dezembro 02, 2010
quarta-feira, dezembro 01, 2010
se te esqueces não volta mais
uma lâmpada fundida
abranda o desenho
do teu nome na areia
lenta
no fluxo desta insónia dunar
os cabelos longínquos
desgrenhados na ausência
mas porque é que desististe assim
sem mais
e agora
uma flor lilás içada para lá do mundo
ao encontro de uma outra coisa qualquer
distante
um lago no olhar
a memória dissimulada
e em cada gesto uma sensação
de perfume vazio
a casa cansada
os corpos no escuro
uma lâmpada fundida é o princípio de tudo
se te esqueces não volta mais
e se volta já vem diferente
MG
uma lâmpada fundida
abranda o desenho
do teu nome na areia
lenta
no fluxo desta insónia dunar
os cabelos longínquos
desgrenhados na ausência
mas porque é que desististe assim
sem mais
e agora
uma flor lilás içada para lá do mundo
ao encontro de uma outra coisa qualquer
distante
um lago no olhar
a memória dissimulada
e em cada gesto uma sensação
de perfume vazio
a casa cansada
os corpos no escuro
uma lâmpada fundida é o princípio de tudo
se te esqueces não volta mais
e se volta já vem diferente
MG
sexta-feira, novembro 12, 2010
segunda-feira, novembro 08, 2010
domingo, novembro 07, 2010
Os pinhais em chamas
Às vezes os silêncios
gritam-nos aos ouvidos;
o desconforto logo às primeiras
horas da manhã;
a reverberação adolescente;
os teus olhos reflectidos
no incêndio das águas de novembro
são seis e vinte e dois de dois mil e dez
mas parece que estes doze anos não foram suficientes
para me convencer que nunca mais
aquilo que quase fomos poderá voltar a ser
a lentidão das tardes em que me escorrias
pelo corpo
e a luz crepuscular
na volúpia indiferente dos teus olhos:
o lirismo dos dezanove
e porque esta noite sinto outra vez
a falta dos palácios que erguíamos
a olhar os pinhais em chamas
estou tentado a deixar que o poema
seja a memória daquilo que por pouco
chegámos a ser
deixa-me jogar palavras de sangue no papel
até que seja possível
sentir-te naufragar de novo em mim
deixa-me inundar a folha
com os segredos que guardámos no escuro
e nunca digas que as florestas são densas demais
para nos encontrarmos
porque de uma coisa me lembro melhor:
do que mais gostávamos
era de nos perdermos
MG 2010
Às vezes os silêncios
gritam-nos aos ouvidos;
o desconforto logo às primeiras
horas da manhã;
a reverberação adolescente;
os teus olhos reflectidos
no incêndio das águas de novembro
são seis e vinte e dois de dois mil e dez
mas parece que estes doze anos não foram suficientes
para me convencer que nunca mais
aquilo que quase fomos poderá voltar a ser
a lentidão das tardes em que me escorrias
pelo corpo
e a luz crepuscular
na volúpia indiferente dos teus olhos:
o lirismo dos dezanove
e porque esta noite sinto outra vez
a falta dos palácios que erguíamos
a olhar os pinhais em chamas
estou tentado a deixar que o poema
seja a memória daquilo que por pouco
chegámos a ser
deixa-me jogar palavras de sangue no papel
até que seja possível
sentir-te naufragar de novo em mim
deixa-me inundar a folha
com os segredos que guardámos no escuro
e nunca digas que as florestas são densas demais
para nos encontrarmos
porque de uma coisa me lembro melhor:
do que mais gostávamos
era de nos perdermos
MG 2010
quinta-feira, novembro 04, 2010
quarta-feira, novembro 03, 2010
sábado, outubro 30, 2010
[ainda a propósito do poema anterior]
Clube de combate
Podes muito bem ser o próximo
a coompreender a excelência do abismo
a beleza do precipício
o vórtice desta nossa vidinha
(eu já o sinto como uma religião)
está na hora de deixares emergir
o anti-herói que há em ti
vives num circo de pessoas postiças,
numa ilusão de quereres ser
o que a televisão te confirma que um dia
virás a ser: we will all be
movie gods, millionaires and rock stars
a turbulência da queda
também tem a sua estética
o desejo de manchar o tapete
a magia de nos desviarmos do plano
de nos iniciarmos no combate connosco próprios
de sentirmos a verdade aos nossos pés
(eu já o sinto como uma religião)
um gajo só vive quando se desafia a si próprio
quando aprende a cair sobre os vários solos
Clube de combate
Podes muito bem ser o próximo
a coompreender a excelência do abismo
a beleza do precipício
o vórtice desta nossa vidinha
(eu já o sinto como uma religião)
está na hora de deixares emergir
o anti-herói que há em ti
vives num circo de pessoas postiças,
numa ilusão de quereres ser
o que a televisão te confirma que um dia
virás a ser: we will all be
movie gods, millionaires and rock stars
a turbulência da queda
também tem a sua estética
o desejo de manchar o tapete
a magia de nos desviarmos do plano
de nos iniciarmos no combate connosco próprios
de sentirmos a verdade aos nossos pés
(eu já o sinto como uma religião)
um gajo só vive quando se desafia a si próprio
quando aprende a cair sobre os vários solos
sexta-feira, outubro 29, 2010
O POEMA ENSINA A CAIR
O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
Luíza Neto Jorge
O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
Luíza Neto Jorge
quarta-feira, outubro 27, 2010
domingo, outubro 24, 2010
sexta-feira, outubro 22, 2010
domingo, outubro 17, 2010
i've been thinking
Look me in the eyes
and say its over baby
your lips taste of wild honey
and under the glass
madmen still ask for a poem
(but you are always the poem)
is it possible to loosen up
and wait for the past?
you know, i have to forget
i've been thinking about you
forever
- please get back in the car
and drive me
wherever you want
we'll fly away and pump
ideas of love
Look me in the eyes
and say its over baby
your lips taste of wild honey
and under the glass
madmen still ask for a poem
(but you are always the poem)
is it possible to loosen up
and wait for the past?
you know, i have to forget
i've been thinking about you
forever
- please get back in the car
and drive me
wherever you want
we'll fly away and pump
ideas of love
terça-feira, outubro 12, 2010
afinal não é assim tão mau
afinal não é assim tão mau:
ainda que te tenham posto na rua
após tantos anos de precariedade
ficou-te na memória uma causa maior
que ninguém registou, a solidariedade e
o empenho na luta por um portugal melhor
ergue agora a cabeça José Miguel
que a economia quer-te
de cabeça erguida, a contribuição
sobrepõe-se às tuas necessidades
e sofre, que a economia precisa que sofras
a bem da nação, a bem dos executores
que lá do alto da sua arrogância
precisam do teu pão que agora é tempo disso,
aforra na comida que dela não necessitas,
é hora de contenção, e deixa ver
o que os próximos relatórios têm para dizer
aguarda que em breve o sr. engenheiro
dará novas instruções
afinal não é assim tão mau:
ainda que te tenham posto na rua
após tantos anos de precariedade
ficou-te na memória uma causa maior
que ninguém registou, a solidariedade e
o empenho na luta por um portugal melhor
ergue agora a cabeça José Miguel
que a economia quer-te
de cabeça erguida, a contribuição
sobrepõe-se às tuas necessidades
e sofre, que a economia precisa que sofras
a bem da nação, a bem dos executores
que lá do alto da sua arrogância
precisam do teu pão que agora é tempo disso,
aforra na comida que dela não necessitas,
é hora de contenção, e deixa ver
o que os próximos relatórios têm para dizer
aguarda que em breve o sr. engenheiro
dará novas instruções
segunda-feira, outubro 11, 2010
quarta-feira, outubro 06, 2010
As cidades ancestrais
Uma vez
um tipo disse-me
que não teria de preocupar-me
se de repente acordasse
de um sono profundo
e nada tivesse para contar.
as folhas em branco dos dias
de pouco servem
para te convenceres que
a tua verdade
é só mais uma por entre
o trânsito compacto,
que te deixaste dormir ao volante
e só acordaste quando embateste em ti.
enche um copo de vinho
e canta a felicidade
de conheceres agora a verdade.
escusas de te abrigar da chuva:
de tanto olhares as fissuras, descobres
o teu nome escrito a branco na cal parda
uma boca cheia de cuspo
berra o teu sonho que alguém te há-de ouvir:
o mar que teima em chegar
as cidades ancestrais, e a ilusão,
nada mais puro que a ilusão
Uma vez
um tipo disse-me
que não teria de preocupar-me
se de repente acordasse
de um sono profundo
e nada tivesse para contar.
as folhas em branco dos dias
de pouco servem
para te convenceres que
a tua verdade
é só mais uma por entre
o trânsito compacto,
que te deixaste dormir ao volante
e só acordaste quando embateste em ti.
enche um copo de vinho
e canta a felicidade
de conheceres agora a verdade.
escusas de te abrigar da chuva:
de tanto olhares as fissuras, descobres
o teu nome escrito a branco na cal parda
uma boca cheia de cuspo
berra o teu sonho que alguém te há-de ouvir:
o mar que teima em chegar
as cidades ancestrais, e a ilusão,
nada mais puro que a ilusão
segunda-feira, agosto 30, 2010
A metamorfose
É quase como se desconhecessem
o início do mundo,
os primeiros passos,
o pensamento inaugural.
Como se sentissem
que a idade não existe verdadeiramente
e que todos nós nascemos ao acaso
mas subitamente, o clarão:
a ilusão acaba sempre por reclamar o silêncio
da palavra primeira
a fogueira que rasga a noite escura,
que de repente altera os sonhos dos homens
que foram meninos mas que se esqueceram
que meninos foram.
Se só agora se aperceberam
que numa outra coisa se haviam transformado
isso foi só-apenas o rigor dilacerante,
a verdade da vida que veio ao de cima
É quase como se desconhecessem
o início do mundo,
os primeiros passos,
o pensamento inaugural.
Como se sentissem
que a idade não existe verdadeiramente
e que todos nós nascemos ao acaso
mas subitamente, o clarão:
a ilusão acaba sempre por reclamar o silêncio
da palavra primeira
a fogueira que rasga a noite escura,
que de repente altera os sonhos dos homens
que foram meninos mas que se esqueceram
que meninos foram.
Se só agora se aperceberam
que numa outra coisa se haviam transformado
isso foi só-apenas o rigor dilacerante,
a verdade da vida que veio ao de cima
segunda-feira, agosto 23, 2010
A angústia das segundas
Segundas-feiras levianas,
(sempre a angústia das segundas-feiras)
na continuidade daquele ardor dominical.
Faltam apenas cinco dias para o regresso
aos motins ocasionais de desfecho inconsequente.
Mas, senhores doutores, digníssimos colegas:
as vossas fisionomias patronais provocam-me
um abrasamento incomensurável,
cada vez se agita mais o meu resumido intelecto.
Não fosse a poesia e a verdade
é que seria incapaz de cumprir em exclusivo,
solenemente e de mão ao peito
bem ao jeito seiscentista
as tarefas que tenho esta semana para cumprir.
Entretanto, permitam-me que vos envie
os meus melhores cumprimentos
Segundas-feiras levianas,
(sempre a angústia das segundas-feiras)
na continuidade daquele ardor dominical.
Faltam apenas cinco dias para o regresso
aos motins ocasionais de desfecho inconsequente.
Mas, senhores doutores, digníssimos colegas:
as vossas fisionomias patronais provocam-me
um abrasamento incomensurável,
cada vez se agita mais o meu resumido intelecto.
Não fosse a poesia e a verdade
é que seria incapaz de cumprir em exclusivo,
solenemente e de mão ao peito
bem ao jeito seiscentista
as tarefas que tenho esta semana para cumprir.
Entretanto, permitam-me que vos envie
os meus melhores cumprimentos
terça-feira, agosto 03, 2010
A ilha da praia (4)
A verdade enfim desabrigada
nas mãos sombrias que produzem o despacho
como quem dispara um fuzil.
Mas não importa que as trincheiras são as dunas,
a vida renasce sempre indiferente à tormenta
e as pescas agora dão à costa em fardos
em noites de luar oriental
É esta a ilha das tribos celestes
como se desde sempre aqui tivessem vivido.
Aqui a realidade é sem dúvida dinâmica:
ainda que se mudem as redes de sítio de vez
só porque se diz que aqui já não há peixe
as amêijoas nunca morrerão sozinhas ao relento
A verdade enfim desabrigada
nas mãos sombrias que produzem o despacho
como quem dispara um fuzil.
Mas não importa que as trincheiras são as dunas,
a vida renasce sempre indiferente à tormenta
e as pescas agora dão à costa em fardos
em noites de luar oriental
É esta a ilha das tribos celestes
como se desde sempre aqui tivessem vivido.
Aqui a realidade é sem dúvida dinâmica:
ainda que se mudem as redes de sítio de vez
só porque se diz que aqui já não há peixe
as amêijoas nunca morrerão sozinhas ao relento
segunda-feira, agosto 02, 2010
A ilha da praia (3)
Naqueles dias
a maré jogava-nos contra o concreto
empurrando-nos para um poema fácil
os aviões nocturnos pareciam baleias celestes
e o silêncio deixava-nos à deriva.
Nas garrafas de sagres que davam à costa
nunca descobri uma mensagem de alguém que se perdera
mas descobri-me a mim
e nunca era tarde, havia sempre tempo para ver
quem tombava primeiro
hoje já não há lodo como havia
e cada vez é mais difícil estender a toalha
Naqueles dias
a maré jogava-nos contra o concreto
empurrando-nos para um poema fácil
os aviões nocturnos pareciam baleias celestes
e o silêncio deixava-nos à deriva.
Nas garrafas de sagres que davam à costa
nunca descobri uma mensagem de alguém que se perdera
mas descobri-me a mim
e nunca era tarde, havia sempre tempo para ver
quem tombava primeiro
hoje já não há lodo como havia
e cada vez é mais difícil estender a toalha
domingo, agosto 01, 2010
quinta-feira, julho 29, 2010
Sem perceber porquê, depois de muito tempo sem aceder à minha conta, consegui hoje - finalmente - permissão para publicar. Obrigado ao sistema. Só por isso, decidi iniciar um novo conjunto de textos (que por agora se chamará "A ilha da praia"). Aqui vai o primeiro.
-----------------
A ilha da praia (1)
Recordas-te da casa do senhor presidente?
já houve um pescador que aí fez um filho
numa barraca que se desfez
para que o senhor presidente aí pudesse estacionar
foi atrás dessa casa que me enamorei
a sério pela primeira vez
nas arestas fundamentais desse betão bem português
a calma nocturna das águas da ria
num reflexo de cortar gargantas
e a bátega salgada ainda lá estão
o meu amor é que já se foi
-----------------
A ilha da praia (1)
Recordas-te da casa do senhor presidente?
já houve um pescador que aí fez um filho
numa barraca que se desfez
para que o senhor presidente aí pudesse estacionar
foi atrás dessa casa que me enamorei
a sério pela primeira vez
nas arestas fundamentais desse betão bem português
a calma nocturna das águas da ria
num reflexo de cortar gargantas
e a bátega salgada ainda lá estão
o meu amor é que já se foi
quinta-feira, junho 24, 2010
sexta-feira, junho 11, 2010
terça-feira, junho 01, 2010
segunda-feira, maio 31, 2010
Porque amanhã nunca se sabe
Para quê esperar pela voltagem do fim
quando podemos amar-nos
antes de nos desprezarmos
um dia não são dias
e os teus olhos por enquanto são selvagens
pelo menos é isso que sinto meu amor
rasga-me os olhos com essa fúria
de amor, deixa-te vir com a força que quiseres
porque amanhã nunca se sabe
se aqui estaremos a ser a loucura
que se vê
Para quê esperar pela voltagem do fim
quando podemos amar-nos
antes de nos desprezarmos
um dia não são dias
e os teus olhos por enquanto são selvagens
pelo menos é isso que sinto meu amor
rasga-me os olhos com essa fúria
de amor, deixa-te vir com a força que quiseres
porque amanhã nunca se sabe
se aqui estaremos a ser a loucura
que se vê
quarta-feira, maio 19, 2010
sábado, maio 08, 2010
Ainda que imaginemos mundos (32)
Ela punha o projecto à frente das pessoas
como se as pessoas para nada interessassem
como se ela própria não fosse também uma pessoa.
Ninguém gosta de se sentir usado
ninguém gosta de não ser visto.
Era como que um vazio sentimental
uma procura astuciosa,
a verdade que só fazia sentido na avidez,
no sentir os pares a adivinhar-lhe a imensidão.
E assim se esquecia dos colaboradores,
da necessária participação dos outros
num programa que não era só seu.
Nada se processava sem que ela não quisesse
mostrar a sua soberania sobre os demais:
a ânsia pelo poder, pelos créditos, a jurisdição,
a subtileza de mostrar quem manda.
No fundo, era um espelho daquilo que todos
nós somos, da nossa felina verdade natural:
a dissimulação
Ela punha o projecto à frente das pessoas
como se as pessoas para nada interessassem
como se ela própria não fosse também uma pessoa.
Ninguém gosta de se sentir usado
ninguém gosta de não ser visto.
Era como que um vazio sentimental
uma procura astuciosa,
a verdade que só fazia sentido na avidez,
no sentir os pares a adivinhar-lhe a imensidão.
E assim se esquecia dos colaboradores,
da necessária participação dos outros
num programa que não era só seu.
Nada se processava sem que ela não quisesse
mostrar a sua soberania sobre os demais:
a ânsia pelo poder, pelos créditos, a jurisdição,
a subtileza de mostrar quem manda.
No fundo, era um espelho daquilo que todos
nós somos, da nossa felina verdade natural:
a dissimulação
quarta-feira, maio 05, 2010
[Ode a Sílvio Berlusconi]
Um requinte essas tuas amigas abrasadas
de um oiro reluzente - a tua linhagem preferida
a toda a hora numa piscina repleta de coisas selvagens
prontas para te servir os daiquiris que pretenderes
ah! os biquínis as tangas e os músculos adornados
lavados em água-mel ah! os olhos vidrados - a nata
num sonho de brilhantina: assim se enlouquece num sossego
de cortar goelas um transe e a verdade que talvez
todos queiramos viver num silêncio quase clássico
de palmeiras orientais junto de uma floresta
impenetrável. Que bom viver num carrossel
que bom ser dono dos céus: foge que os animais ferozes
estão à espreita para te devorarem: é assim o inferno
e o paraíso onde os anjos se passeiam de barba feita
e as garças são como gatas felinas que se roçam
em todo o lado. Que lugar este, apinhado de vampiras e lobijovens
leva-me contigo lobo das neves, coloca-me na tua guest list
Um requinte essas tuas amigas abrasadas
de um oiro reluzente - a tua linhagem preferida
a toda a hora numa piscina repleta de coisas selvagens
prontas para te servir os daiquiris que pretenderes
ah! os biquínis as tangas e os músculos adornados
lavados em água-mel ah! os olhos vidrados - a nata
num sonho de brilhantina: assim se enlouquece num sossego
de cortar goelas um transe e a verdade que talvez
todos queiramos viver num silêncio quase clássico
de palmeiras orientais junto de uma floresta
impenetrável. Que bom viver num carrossel
que bom ser dono dos céus: foge que os animais ferozes
estão à espreita para te devorarem: é assim o inferno
e o paraíso onde os anjos se passeiam de barba feita
e as garças são como gatas felinas que se roçam
em todo o lado. Que lugar este, apinhado de vampiras e lobijovens
leva-me contigo lobo das neves, coloca-me na tua guest list
segunda-feira, maio 03, 2010
Na ordem do dia (2)
A propósito do livro de Ian Buruma "A Morte de Theo Van Gogh e os Limites da Tolerância", publicado pela Editorial Presença em 2007, Manuela Franco coloca algumas questões extremamente interessantes, na sua análise crítica "Dissensão em Amesterdão. Europeizar o Islão ou Islamizar a Europa?", publicada na revista Relações Internacionais n.º 18. Para pensar.
O pluralismo e a tolerância são os pilares da sociedade moderna e esse facto tem de ser aceite. Pluralismo não significa apenas diversidade. Significa também que é possível permanecer diferente e partilhar os mesmos valores e as mesmas regras. O Islão não partilha desta ideia. De resto a alegada tradição de tolerância do Islão apenas significa que Judeus e Cristãos podem viver sob a protecção muçulmana mas nunca como cidadãos de direitos iguais, coisa que às luzes europeias se chama discriminação.
(...)
E aqui ficam as perguntas a que Buruma não soube ou não quis responder: De onde vem a equanimidade da parte de tantos políticos, jornalistas e intelectuais perante o aumento exponencial das ameaças de morte e violência por parte de fundamentalistas islâmicos? A equanimidade para entrar em diálogo e aceitar conversa de quem defende o apedrejamento de mulheres até à morte? A incapacidade de reconhecer que os direitos das mulheres são um dos aspectos fundamentais nos debates sobre o islamismo? A incapacidade de nomear e reconhecer os problemas das mulheres muçulmanas na Europa? A incapacidade de reconhecer a dimensão e papel anti-democrático do “novo” antisemitismo?
A propósito do livro de Ian Buruma "A Morte de Theo Van Gogh e os Limites da Tolerância", publicado pela Editorial Presença em 2007, Manuela Franco coloca algumas questões extremamente interessantes, na sua análise crítica "Dissensão em Amesterdão. Europeizar o Islão ou Islamizar a Europa?", publicada na revista Relações Internacionais n.º 18. Para pensar.
O pluralismo e a tolerância são os pilares da sociedade moderna e esse facto tem de ser aceite. Pluralismo não significa apenas diversidade. Significa também que é possível permanecer diferente e partilhar os mesmos valores e as mesmas regras. O Islão não partilha desta ideia. De resto a alegada tradição de tolerância do Islão apenas significa que Judeus e Cristãos podem viver sob a protecção muçulmana mas nunca como cidadãos de direitos iguais, coisa que às luzes europeias se chama discriminação.
(...)
E aqui ficam as perguntas a que Buruma não soube ou não quis responder: De onde vem a equanimidade da parte de tantos políticos, jornalistas e intelectuais perante o aumento exponencial das ameaças de morte e violência por parte de fundamentalistas islâmicos? A equanimidade para entrar em diálogo e aceitar conversa de quem defende o apedrejamento de mulheres até à morte? A incapacidade de reconhecer que os direitos das mulheres são um dos aspectos fundamentais nos debates sobre o islamismo? A incapacidade de nomear e reconhecer os problemas das mulheres muçulmanas na Europa? A incapacidade de reconhecer a dimensão e papel anti-democrático do “novo” antisemitismo?
domingo, maio 02, 2010
Ainda que imaginemos mundos (31)
Poderão tentar imprimir-nos uma verdade
ao silêncio que nos orienta o olhar,
uma chama que nos presida às obsessões
mas o rigor nunca será exacto
todas as nossas paixões:
haverá sempre uma imprecisão
nunca nos poderão descortinar
um segredo profundo e antigo
um caminho percorrido
ainda que nos queiram translúcidos
e que nos exijam como a água de um manancial intacto:
o nosso trajecto, a nossa pessoa
nesta pungente sequência de dias
guarda-se sempre um ledo balão de oxigénio
uma coisa só nossa para respirarmos
por entre a excessiva poluição
Poderão tentar imprimir-nos uma verdade
ao silêncio que nos orienta o olhar,
uma chama que nos presida às obsessões
mas o rigor nunca será exacto
todas as nossas paixões:
haverá sempre uma imprecisão
nunca nos poderão descortinar
um segredo profundo e antigo
um caminho percorrido
ainda que nos queiram translúcidos
e que nos exijam como a água de um manancial intacto:
o nosso trajecto, a nossa pessoa
nesta pungente sequência de dias
guarda-se sempre um ledo balão de oxigénio
uma coisa só nossa para respirarmos
por entre a excessiva poluição
quinta-feira, abril 29, 2010
quarta-feira, abril 28, 2010
Ainda que imaginemos mundos (30)
Quis um dia seguir em silêncio
na vida, logo que me apercebi que te perdera
e assim esculpi
um percurso de sombras: a demência
que se assolou
Morreste-me sem aviso,
sem que te pudesse libertar
e que raio de claridade agora,
a serena vida dos outros
Que bom seria se para sempre
tudo se desenrolasse numa ilusão,
que pudesse existir eternidade
na paz dos novos dias
longe do vazio da minha pessoa
Quis um dia seguir em silêncio
na vida, logo que me apercebi que te perdera
e assim esculpi
um percurso de sombras: a demência
que se assolou
Morreste-me sem aviso,
sem que te pudesse libertar
e que raio de claridade agora,
a serena vida dos outros
Que bom seria se para sempre
tudo se desenrolasse numa ilusão,
que pudesse existir eternidade
na paz dos novos dias
longe do vazio da minha pessoa
domingo, abril 25, 2010
domingo, abril 18, 2010
Ainda que imaginemos mundos (28)
uma breve brisa de devastação
ainda me desenraíza do conforto
desta vida que escolhi
com a facilidade que se vê:
ainda recupero
os teus olhos vermelhos, assim,
perversos numa sombra sem fim,
numa alucinação interminável,
no desejo de lascívia, na inquietação
de um fantasma intemporal,
na irrealidade de nós dois, sepultados
para sempre na carne.
mas deixa-te estar,
por favor deixa-te estar que a minha loucura
de agora é este desejo,
a obsessão, nós sempre na guerra de sempre,
o sangue.
e a violência não está só nessa memória,
está nos dezoito, nos dezanove, nos vinte e cinco - não,
afinal não importa para nada a idade.
o começo da decadência
foi aperceber-me que te perdi
- é por isso que há sempre uma brisa de ruína
na deliciosa vertigem da memória:
a destruição torna-se sempre mais evidente
quando me apercebo de mim
e da impossibilidade do teu regresso
uma breve brisa de devastação
ainda me desenraíza do conforto
desta vida que escolhi
com a facilidade que se vê:
ainda recupero
os teus olhos vermelhos, assim,
perversos numa sombra sem fim,
numa alucinação interminável,
no desejo de lascívia, na inquietação
de um fantasma intemporal,
na irrealidade de nós dois, sepultados
para sempre na carne.
mas deixa-te estar,
por favor deixa-te estar que a minha loucura
de agora é este desejo,
a obsessão, nós sempre na guerra de sempre,
o sangue.
e a violência não está só nessa memória,
está nos dezoito, nos dezanove, nos vinte e cinco - não,
afinal não importa para nada a idade.
o começo da decadência
foi aperceber-me que te perdi
- é por isso que há sempre uma brisa de ruína
na deliciosa vertigem da memória:
a destruição torna-se sempre mais evidente
quando me apercebo de mim
e da impossibilidade do teu regresso
terça-feira, abril 13, 2010
quarta-feira, março 31, 2010
Ainda que imaginemos mundos (28)
E se os trinta às vezes fossem
como que uma transparência sempre opaca
e a vida sempre ao contrário,
um barco a remar contra a maré dos dias,
nada daquilo que um dia imaginámos ser?
A adolescência só se vive mesmo uma vez
agora acredito
e alguns dos nossos maiores sonhos
nunca se haverão de realizar.
Coragem marinheiro
coragem que o mar é bravo
E se os trinta às vezes fossem
como que uma transparência sempre opaca
e a vida sempre ao contrário,
um barco a remar contra a maré dos dias,
nada daquilo que um dia imaginámos ser?
A adolescência só se vive mesmo uma vez
agora acredito
e alguns dos nossos maiores sonhos
nunca se haverão de realizar.
Coragem marinheiro
coragem que o mar é bravo
domingo, março 28, 2010
“Death is not an event in life: we do not live to experience death. If we take eternity to mean not infinitive temporal duration but timelessness, then eternal life belongs to those who live in the present. Our life has no end in just the way in which our visual field has no limits.”
Ludwig Wittgenstein (1889 — 1951)
Um sítio brilhante para descobrir a vida e o pensamento deste filósofo austríaco.
Ludwig Wittgenstein (1889 — 1951)
Um sítio brilhante para descobrir a vida e o pensamento deste filósofo austríaco.
segunda-feira, março 22, 2010
Ainda que imaginemos mundos (27)
Estou sempre atrasado para a vida.
E continuo a torturar-me por um atalho
para uma memória arcaica, pelo teu regresso:
o verdadeiro delito da carne.
Esquece-me que eu prometo nunca te esquecer,
continuas sendo um fogo celeste.
Ensinaste-me o mundo
e agora já só permanece a vontade constante
de retorno, a toda a hora
e a demora constante, a ilusão
de mim próprio.
Bem sei que já não existo,
que já tudo se consumiu,
mas a verdadeira transgressão
continua a ser o teu nome, dito em silêncio
Estou sempre atrasado para a vida.
E continuo a torturar-me por um atalho
para uma memória arcaica, pelo teu regresso:
o verdadeiro delito da carne.
Esquece-me que eu prometo nunca te esquecer,
continuas sendo um fogo celeste.
Ensinaste-me o mundo
e agora já só permanece a vontade constante
de retorno, a toda a hora
e a demora constante, a ilusão
de mim próprio.
Bem sei que já não existo,
que já tudo se consumiu,
mas a verdadeira transgressão
continua a ser o teu nome, dito em silêncio
segunda-feira, março 15, 2010
Ainda que imaginemos mundos (26)
Limito-me a deixar que tudo aconteça,
que o mundo role desgovernado
na procura de uma realidade sincera
que me inunde outra vez.
Talvez assim não me desmorone,
talvez me aperceba pouco da eminência da morte
porque o teu nome me escapou.
E a vidinha assim vai correndo, entretanto,
por entre a calçada, numa ilusão.
Percorro o mesmo asfalto todos os dias
sem questionar a razão da decadência mas
nos teus olhos antigos, uma ferida aberta,
uma alucinação sanguínea, a verdade verdadeira,
e o rigor da memória:
há sempre uma vertigem por estancar,
sempre a mesma vertigem, os dezanove,
o felino suor dos dezanove, os teus olhos
Limito-me a deixar que tudo aconteça,
que o mundo role desgovernado
na procura de uma realidade sincera
que me inunde outra vez.
Talvez assim não me desmorone,
talvez me aperceba pouco da eminência da morte
porque o teu nome me escapou.
E a vidinha assim vai correndo, entretanto,
por entre a calçada, numa ilusão.
Percorro o mesmo asfalto todos os dias
sem questionar a razão da decadência mas
nos teus olhos antigos, uma ferida aberta,
uma alucinação sanguínea, a verdade verdadeira,
e o rigor da memória:
há sempre uma vertigem por estancar,
sempre a mesma vertigem, os dezanove,
o felino suor dos dezanove, os teus olhos
domingo, março 07, 2010
PORTICO QUARTET
22 Março
Teatro de S. Luiz
Lisboa
Uma mistura de jazz espacial, de uma profundidade celestial, e um quase-minimalismo instrumental. Continuam a tocar de vez em quando em Southbank (Londres), de borla.
A sua aparente simplicidade musical possui a rara capacidade de jogar com as nossas mais profundas emoções: uma pérola.
A não perder.
quinta-feira, março 04, 2010
terça-feira, março 02, 2010
Do acordo ortográfico
Em Outubro último, numa das viagens de regresso de Picadilly Circus a St. Pancras, dois indianos troçavam vivamente deste mundo em que actualmente vivemos. De repente, um deles dispara, indignado, uma frase de guerrilha: «language is depending on economical progress». Nunca mais me esqueci dessa verdade tão internacional.
Em Outubro último, numa das viagens de regresso de Picadilly Circus a St. Pancras, dois indianos troçavam vivamente deste mundo em que actualmente vivemos. De repente, um deles dispara, indignado, uma frase de guerrilha: «language is depending on economical progress». Nunca mais me esqueci dessa verdade tão internacional.
terça-feira, fevereiro 23, 2010
Ainda que imaginemos mundos (25)
Na ilusão desta tarde agreste
somos outra vez assim: perpétuos
mas esta verdade é como o tempo,
que se esfuma sempre.
Onde andas desde aquele dia
em que nos sentimos uma última vez?
Onde andas meu amor selvagem?
Um pássaro longínquo que passa
anuncia-me sempre o teu regresso
e aqui me descubro, alheio, a olhar os dias.
É sempre assim quando um desejo feroz
se impõe e os teus olhos irrompem:
o reflexo de uma inocência celeste,
um objecto inominável, uma coisa,
uma esquina, um clarão:
tudo me traz de volta o teu cheiro.
Mas gosto de pensar
que seremos sempre um só
sempre que um de nós quiser
Na ilusão desta tarde agreste
somos outra vez assim: perpétuos
mas esta verdade é como o tempo,
que se esfuma sempre.
Onde andas desde aquele dia
em que nos sentimos uma última vez?
Onde andas meu amor selvagem?
Um pássaro longínquo que passa
anuncia-me sempre o teu regresso
e aqui me descubro, alheio, a olhar os dias.
É sempre assim quando um desejo feroz
se impõe e os teus olhos irrompem:
o reflexo de uma inocência celeste,
um objecto inominável, uma coisa,
uma esquina, um clarão:
tudo me traz de volta o teu cheiro.
Mas gosto de pensar
que seremos sempre um só
sempre que um de nós quiser
sábado, fevereiro 20, 2010
Ainda que imaginemos mundos (24)
Os dias parecem-me sempre incompletos.
nada acontece, nada de importante, nada de mais
são sempre as mesmas caras,
no mesmo sítio, sempre no sítio: é o costume:
segunda das nove e vinte às cinco e meia
terça das nove às cinco e trinta e cinco
quarta das nove e vinte às cinco e quarenta e cinco
quinta das nove e um quarto às seis
sexta das nove e meia às cinco.
e hoje é sábado e aqui me vejo sentado, outra vez
de caneta em punho a contar a semana ao papel.
Amanhã será o dia em que mais me parece
que os dias são incompletos
Os dias parecem-me sempre incompletos.
nada acontece, nada de importante, nada de mais
são sempre as mesmas caras,
no mesmo sítio, sempre no sítio: é o costume:
segunda das nove e vinte às cinco e meia
terça das nove às cinco e trinta e cinco
quarta das nove e vinte às cinco e quarenta e cinco
quinta das nove e um quarto às seis
sexta das nove e meia às cinco.
e hoje é sábado e aqui me vejo sentado, outra vez
de caneta em punho a contar a semana ao papel.
Amanhã será o dia em que mais me parece
que os dias são incompletos
quinta-feira, fevereiro 11, 2010
terça-feira, fevereiro 09, 2010
Ainda que imaginemos mundos (23)
Não importa que os dias se extingam
sem que nos apercebamos da sua passagem
enquanto fixamos uma caixa negra,
das nove às cinco, a troco de capital,
já que esta vida se sucede a favor
de uma suposta felicidade.
Ensinaram-nos que se faiscarmos diariamente
numa loucura prenunciada
então um dia poderemos ser grandes senhores,
ricos patrões, proprietários abastados
recheados de contentamento
se alguém, como tu,
estas palavras ler e pensar:
que verdade esta que aqui se diz
então que rasgue os dias de poesia
e queime este mundo obtuso
onde muitos vivem a julgar
que com ideias destas nos distraímos
de uma prometida ilusão de veraneio
a vida não só será bela
se tivermos bagulho no bolso:
pelo menos é o consta deste meu delírio
Não importa que os dias se extingam
sem que nos apercebamos da sua passagem
enquanto fixamos uma caixa negra,
das nove às cinco, a troco de capital,
já que esta vida se sucede a favor
de uma suposta felicidade.
Ensinaram-nos que se faiscarmos diariamente
numa loucura prenunciada
então um dia poderemos ser grandes senhores,
ricos patrões, proprietários abastados
recheados de contentamento
se alguém, como tu,
estas palavras ler e pensar:
que verdade esta que aqui se diz
então que rasgue os dias de poesia
e queime este mundo obtuso
onde muitos vivem a julgar
que com ideias destas nos distraímos
de uma prometida ilusão de veraneio
a vida não só será bela
se tivermos bagulho no bolso:
pelo menos é o consta deste meu delírio
domingo, fevereiro 07, 2010
Paradise circus: o circo do paraíso.
Nova música, do novo albúm de Massive attack. Brilhante. Bem ao estilo de Mezzanine.
Ainda que imaginemos mundos (22)
Só esperávamos um dia ser capazes
de incapacitar a força dos nossos olhos
(ou talvez não)
queríamos qualquer coisa que nos inventasse outra vez:
talvez assim esquecêssemos a podridão
deste mundo enfermo
onde tantas vezes nos imaginamos outros
onde tentamos refrescar a ilusão,
onde tudo é incompreensível,
onde tantas vezes nos escondemos:
há sempre um muro invisível a separar-nos de nós
que bom seria se a claridade resplandecesse,
se uma força imensa nos inundasse com a nossa presença
(ou talvez não) assim: nus e impuros
assim: sujos de nós
tantas coisas se disseram, coisas sem sentido
e os outros, incrédulos (eles no fundo sabem)
mas no fundo nada sabem de nós
se ao menos um dia nos deixássem ser
o que um dia quisemos ser
talvez o tempo regressasse de novo àquele tempo sem tempo
à volúpia daquela verdade arcaica
mas no fundo sabemos claramente que nunca,
nunca mais podemos ser nós
Nova música, do novo albúm de Massive attack. Brilhante. Bem ao estilo de Mezzanine.
Ainda que imaginemos mundos (22)
Só esperávamos um dia ser capazes
de incapacitar a força dos nossos olhos
(ou talvez não)
queríamos qualquer coisa que nos inventasse outra vez:
talvez assim esquecêssemos a podridão
deste mundo enfermo
onde tantas vezes nos imaginamos outros
onde tentamos refrescar a ilusão,
onde tudo é incompreensível,
onde tantas vezes nos escondemos:
há sempre um muro invisível a separar-nos de nós
que bom seria se a claridade resplandecesse,
se uma força imensa nos inundasse com a nossa presença
(ou talvez não) assim: nus e impuros
assim: sujos de nós
tantas coisas se disseram, coisas sem sentido
e os outros, incrédulos (eles no fundo sabem)
mas no fundo nada sabem de nós
se ao menos um dia nos deixássem ser
o que um dia quisemos ser
talvez o tempo regressasse de novo àquele tempo sem tempo
à volúpia daquela verdade arcaica
mas no fundo sabemos claramente que nunca,
nunca mais podemos ser nós
quarta-feira, fevereiro 03, 2010
Há escritores tão macacos (perdoem-me os macacos, que nenhuma culpa têm no cartório) que às vezes parece que transformam a idiotice na sua imagem de marca. Não só no papel, mas também na imagem que projectam de si próprios. Nesta questão, a idade nem sempre é uma condicionante, mas quase sempre é um factor de importância maior.
Não queiramos ser aquilo que não sabemos ser. Porque soa a macaquice. O que é facto é que estes idiotas (que sabem sê-lo com verdadeira classe de idiotas, diga-se de passagem), muitas vezes, são transportados, por enredos onde as operações de charme muito têm a dizer, para um (mini) estrelato idiota. E eles gostam. E falam disso (porque na realidade não sabem escrever). E são felizes.
Deixemo-los serem idiotas. Ao menos, à falta de algo melhor, dá-nos um assunto para escrever.
Não queiramos ser aquilo que não sabemos ser. Porque soa a macaquice. O que é facto é que estes idiotas (que sabem sê-lo com verdadeira classe de idiotas, diga-se de passagem), muitas vezes, são transportados, por enredos onde as operações de charme muito têm a dizer, para um (mini) estrelato idiota. E eles gostam. E falam disso (porque na realidade não sabem escrever). E são felizes.
Deixemo-los serem idiotas. Ao menos, à falta de algo melhor, dá-nos um assunto para escrever.
segunda-feira, fevereiro 01, 2010
Ainda que imaginemos mundos (21)
A claridade nunca
verbaliza o perfume
ou desenha o sublime
enquanto a idade passa por mim.
Ainda assim
por debaixo da sombra
tento percorrer o rigor
mas acabo por preferir
o investimento na ilusão,
na vontade de uma outra coisa,
na vontade de ser eu, e é assim
que desligo da realidade.
Poderei algum dia chegar
de onde vim, perceber
para onde vou,
e porque sou?
Talvez uma ausência eterna
me impeça de perceber este lugar
mas sossego, porque um dia
a verdade permanecerá
no silêncio destas palavras
A claridade nunca
verbaliza o perfume
ou desenha o sublime
enquanto a idade passa por mim.
Ainda assim
por debaixo da sombra
tento percorrer o rigor
mas acabo por preferir
o investimento na ilusão,
na vontade de uma outra coisa,
na vontade de ser eu, e é assim
que desligo da realidade.
Poderei algum dia chegar
de onde vim, perceber
para onde vou,
e porque sou?
Talvez uma ausência eterna
me impeça de perceber este lugar
mas sossego, porque um dia
a verdade permanecerá
no silêncio destas palavras
terça-feira, janeiro 12, 2010
segunda-feira, janeiro 11, 2010
Ainda que imaginemos mundos (20)
Ao anoitecer, na mansidão da memória,
é mais fácil transpor a fronteira.
No revolver dos sonhos,
a claridade das ilusões, e a certeza:
tudo se torna evidente ao cair do dia,
quando nos perdemos no tempo
e temos dezoito, outra vez
e temos cinquenta, ou cem,
mas temos dezoito, outra vez.
De que importa a solidão de agora
quando a noite assim traz
de volta a loucura,
quando nos apercebemos que não há idades
para nos sentirmos vivos
Ao anoitecer, na mansidão da memória,
é mais fácil transpor a fronteira.
No revolver dos sonhos,
a claridade das ilusões, e a certeza:
tudo se torna evidente ao cair do dia,
quando nos perdemos no tempo
e temos dezoito, outra vez
e temos cinquenta, ou cem,
mas temos dezoito, outra vez.
De que importa a solidão de agora
quando a noite assim traz
de volta a loucura,
quando nos apercebemos que não há idades
para nos sentirmos vivos
domingo, janeiro 10, 2010
Ainda que imaginemos mundos (19)
Sou eu a razão da minha insónia,
da indefinição de uma verdade inquinada,
que cresceu, cresceu, cresceu,
numa elevação insuspeita.
Como anseio por algo que devolva
aquela errática adolescência
e a cessação da perversão
que alimenta o ardor.
Vem de há muito este tédio
e talvez mereça a inquietude,
este terror que me sugou a memória,
mas já basta, que a tempestade é evidente.
Bem sei que a solução
em mim se encontra, mas reformei-me,
talvez para sempre, e esqueci-me
de algumas caras antigas:
o meu sonho de agora
é só sentir-me eu, outra vez
Sou eu a razão da minha insónia,
da indefinição de uma verdade inquinada,
que cresceu, cresceu, cresceu,
numa elevação insuspeita.
Como anseio por algo que devolva
aquela errática adolescência
e a cessação da perversão
que alimenta o ardor.
Vem de há muito este tédio
e talvez mereça a inquietude,
este terror que me sugou a memória,
mas já basta, que a tempestade é evidente.
Bem sei que a solução
em mim se encontra, mas reformei-me,
talvez para sempre, e esqueci-me
de algumas caras antigas:
o meu sonho de agora
é só sentir-me eu, outra vez
sexta-feira, janeiro 08, 2010
Ainda que imaginemos mundos (18)
Sempre te agradou o silêncio
de um olhar mortal
e nas palavras absentistas
que proferias,
nunca soube se por prazer
se por defeito,
eu a definhar
na quietude,
desarmado e impotente,
nas ardentes reminiscências do sangue.
Ainda resistes ao tempo,
e nesse teu olhar
experimento agora, outra vez,
os nossos mundos longínquos
(que até se tocaram).
Por um momento-instante,
neste frio invernal,
uma ideia antiga:
tudo se transfigura
mas tu, eterna,
em mim permaneces, qual rainha indecisa.
Se algum dia te conheci,
continuas sendo ilusão.
A verdade é que te descubro sempre
no delírio dos dias.
Sempre te agradou o silêncio
de um olhar mortal
e nas palavras absentistas
que proferias,
nunca soube se por prazer
se por defeito,
eu a definhar
na quietude,
desarmado e impotente,
nas ardentes reminiscências do sangue.
Ainda resistes ao tempo,
e nesse teu olhar
experimento agora, outra vez,
os nossos mundos longínquos
(que até se tocaram).
Por um momento-instante,
neste frio invernal,
uma ideia antiga:
tudo se transfigura
mas tu, eterna,
em mim permaneces, qual rainha indecisa.
Se algum dia te conheci,
continuas sendo ilusão.
A verdade é que te descubro sempre
no delírio dos dias.
domingo, janeiro 03, 2010
Ainda que imaginemos mundos (17)
A culpa não é nossa. Nunca é nossa.
O ruído das nossas vidas sempre foi difuso
e a distância sempre nos consumiu o olhar
mas naquela noite perdi-me (perdemo-nos)
e na verdade convulsa que nos unia,
uma vontade, que ainda perdura.
Imaginei-te eterna, numa estrada intemporal
mas na clandestinidade deste longo caminho
é já difícil sentir-te: o vazio.
Sob a chuva dos dias, para sempre,
a perfeição da tua ausência a escorrer-me
pela face. E na lentidão da vida,
neste fim do horizonte, uma certeza:
hei-de reencontrar-te
numa manhã inquieta,
para, solenemente, tudo recomeçar.
A culpa não é nossa. Nunca é nossa.
O ruído das nossas vidas sempre foi difuso
e a distância sempre nos consumiu o olhar
mas naquela noite perdi-me (perdemo-nos)
e na verdade convulsa que nos unia,
uma vontade, que ainda perdura.
Imaginei-te eterna, numa estrada intemporal
mas na clandestinidade deste longo caminho
é já difícil sentir-te: o vazio.
Sob a chuva dos dias, para sempre,
a perfeição da tua ausência a escorrer-me
pela face. E na lentidão da vida,
neste fim do horizonte, uma certeza:
hei-de reencontrar-te
numa manhã inquieta,
para, solenemente, tudo recomeçar.
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