quarta-feira, junho 27, 2007

A teia

Ele próprio uma sombra indefinida
numa teia desarrumada
como se uma névoa de incertezas
elucidasse aquele passado desordenado
por onde o devir se foi entranhando

Miguel Godinho

quarta-feira, junho 20, 2007

domingo, junho 17, 2007


Está-se a compôr...

O teu alagar

Assisti ao teu alagar
(como numa inundação)
à ideia de esconderes as glórias
numa planície distante
para que ninguém mais (nem tu)
soubesse delas

Transformaste as tuas virtudes
em demências constantes
- o teu existir

Lembra-te que
essa tua tendência para o abismo
- um vórtice de loucuras constantes,
uma espera por algo que desconheces
pode de repente demolir-te
a decência e então escoas
por entre a caleira da vida

Miguel Godinho

quinta-feira, junho 14, 2007

Uma farda que te servia

Nas profundezas da tua pessoa
tu a olhares para ti
a gritares-te em tom de protesto
vaiado pela insegurança
vestiste uma farda que te servia
converteste-te numa coisa que não és tu
e agora… tu a olhares para ti
a gritares-te em tom de protesto
nas profundezas da tua pessoa
tu escondido de ti
diminuído de vergonha
numa farda que te servia
numa figura que agora é a tua

Miguel Godinho

quarta-feira, junho 13, 2007

As sombras nocturnas

Nos desejos adolescentes
a inocência talhada
será sempre assim
o Junho de 98
de novo aqui
e o cheiro a ria
eu deitado
na sombra nocturna
da casa fechada
na praia da ilha
o vento sussurra
será sempre assim

Miguel Godinho

terça-feira, junho 05, 2007

Continuando a conversa do outro dia...

Há indivíduos (na maioria das vezes relativamente jovens) que assim que se vêem com um cargo hierarquicamente interessante, passam a trajar uma pose bastante curiosa (...)

(...) São putos de trinta e poucos, talvez uns anitos mais velhos, alguma experiência laboral mas com a “lição já toda sabida”, afinal já adquiriram “as” manhas e um pouco de blá-blá-blá. Já têm a escola toda… É o género de pessoas que traz sempre a barbinha bem feitinha e o sorrisinho bem vincadinho na carinha, o típico Engº ou Drº que faz questão de franzir o grau como se vivêssemos ainda numa monarquia. É também o tipo de gente que se dirige aos “catraios” recém integrados no trabalho e que os trata como miúdos, como palermas, ou coisa que o valha, ralé, enfim, gentinha a quem é preciso mostrar quem manda.

Miguel Godinho

segunda-feira, junho 04, 2007



O mar em mim

Continuo a sentir-te
em tons de azul
de cada vez que olho o mar

não é verdade que as ondas
sejam uma metáfora
da tua inconstância

são apenas ondas
e eu gosto do mar ondulado


Miguel Godinho