sábado, outubro 30, 2010

[ainda a propósito do poema anterior]

Clube de combate

Podes muito bem ser o próximo
a coompreender a excelência do abismo
a beleza do precipício
o vórtice desta nossa vidinha

(eu já o sinto como uma religião)

está na hora de deixares emergir
o anti-herói que há em ti

vives num circo de pessoas postiças,
numa ilusão de quereres ser
o que a televisão te confirma que um dia
virás a ser: we will all be
movie gods, millionaires and rock stars

a turbulência da queda
também tem a sua estética
o desejo de manchar o tapete
a magia de nos desviarmos do plano
de nos iniciarmos no combate connosco próprios
de sentirmos a verdade aos nossos pés

(eu já o sinto como uma religião)

um gajo só vive quando se desafia a si próprio
quando aprende a cair sobre os vários solos

sexta-feira, outubro 29, 2010

O POEMA ENSINA A CAIR

O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede

até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.

Luíza Neto Jorge

quinta-feira, outubro 28, 2010

[retirado do caderno do silêncio]

isto não é um borrão silencioso

quarta-feira, outubro 27, 2010

[retirado do Caderno do Silêncio]

O som do mar é funesto
e tem graça que hoje dei por mim
a sonhar com anzóis mortais

terça-feira, outubro 26, 2010












GREGORY ISAACS
15.07.1950 - 25.10.2010





domingo, outubro 24, 2010

O caderno do silêncio


MG 2010


sexta-feira, outubro 22, 2010

Só para que tenhas uma ideia

Só para que tenhas uma ideia
começo a escrever
às quatro da madrugada
o teu nome repetidamente o teu nome
enquanto espero que outras palavras
me expliquem o porquê
de pouco mais haver a dizer


domingo, outubro 17, 2010

i've been thinking

Look me in the eyes
and say its over baby
your lips taste of wild honey
and under the glass
madmen still ask for a poem
(but you are always the poem)
is it possible to loosen up
and wait for the past?
you know, i have to forget
i've been thinking about you
forever
- please get back in the car
and drive me
wherever you want
we'll fly away and pump
ideas of love

terça-feira, outubro 12, 2010

afinal não é assim tão mau

afinal não é assim tão mau:
ainda que te tenham posto na rua
após tantos anos de precariedade
ficou-te na memória uma causa maior
que ninguém registou, a solidariedade e
o empenho na luta por um portugal melhor
ergue agora a cabeça José Miguel
que a economia quer-te
de cabeça erguida, a contribuição
sobrepõe-se às tuas necessidades
e sofre, que a economia precisa que sofras
a bem da nação, a bem dos executores
que lá do alto da sua arrogância
precisam do teu pão que agora é tempo disso,
aforra na comida que dela não necessitas,
é hora de contenção, e deixa ver
o que os próximos relatórios têm para dizer
aguarda que em breve o sr. engenheiro
dará novas instruções

segunda-feira, outubro 11, 2010

The days run away like wild horses over the hills

Uma pérola, o livro que comprei há dias em Londres.

quarta-feira, outubro 06, 2010

As cidades ancestrais

Uma vez
um tipo disse-me
que não teria de preocupar-me
se de repente acordasse
de um sono profundo
e nada tivesse para contar.
as folhas em branco dos dias
de pouco servem
para te convenceres que
a tua verdade
é só mais uma por entre
o trânsito compacto,
que te deixaste dormir ao volante
e só acordaste quando embateste em ti.
enche um copo de vinho
e canta a felicidade
de conheceres agora a verdade.
escusas de te abrigar da chuva:
de tanto olhares as fissuras, descobres
o teu nome escrito a branco na cal parda
uma boca cheia de cuspo
berra o teu sonho que alguém te há-de ouvir:
o mar que teima em chegar
as cidades ancestrais, e a ilusão,
nada mais puro que a ilusão