quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Qualquer coisa que lhes restabeleça

Também as palavras
por vezes carecem 
de antioxidantes
qualquer coisa 
que lhes restabeleça
o seu significado original
.
MG 2013

Está provado


Está provado
que as dificuldades conjunturais
podem facilmente
conduzir-nos à poesia,
à modernidade
em todo o seu esplendor

está provado
que há verdade
nas políticas comuns
na austeridade
do enquadramento

está provada 
a utilidade dos baldes 
cheios de estrume
distribuídos pelas múltiplas
salas de reunião

está provado
que se concretizam
as previsões de crescimento
nos horóscopos
e nos telejornais

está provado 
que eu sempre quis
ser um euro-cidadão
levar uma bofetada económica
ver Paris à noite, embebedar-me
nos bistrôs do quartier-latin
.
MG 2013

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

As feridas//as cicatrizes

As feridas, as cicatrizes
o amor, a vida
a nossa vida
os dias que se sucedem
deitamo-nos na cama que fazemos
diz-me se és feliz, diz-me 
se estás feliz, diz-me que és 
feliz, diz-me que somos felizes
eu acredito em ti, eu sou feliz
eu acho que sou feliz
eu tenho mais anos do que 
aqueles que penso que tenho
será sempre assim, os anos
os dias, os minutos, uma vida, a vida
a nossa vida. 
Não tarda, acabou. 
Não tarda, acabou. 
Não tarda
.
MG 2013

terça-feira, fevereiro 26, 2013

Poema//mina

Há poemas tão minados
que sempre que lhes pomos os olhos em cima
rebentam-nos na cara
.
MG 2013

ah, os atributos

Ah, os atributos antropomórficos 
dos mercados: eles andam 
excitados, descontentes, torcem 
o nariz, reagem violentamente 
às boas e às más notícias e 

castigam
castigam
castigam

entram em pânico
e não cumprem regras
desobedecem a leis e valores
têm desejos e influenciam
os ambientes à sua volta e

manipulam
manipulam
manipulam

mas os mercados não são gente
muito menos deuses do Olimpo
ainda que comam pessoas
pessoas que se deixam devorar
de tão convencidas que estão
que os mercados são para comer
.
MG 2013

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Dias à cabeça


Carrego dias
à cabeça
mas o que mais
me custa
é resistir
ao infinito
a poesia maniqueísta
a balbúrdia
dos telejornais
.
MG