terça-feira, janeiro 12, 2010

"(...) o mal dos escritores é, se nada têm a dizer, não silenciarem esperando, pacientemente, por eles."

Sebastião Alba, Albas, Lisboa: Quasi, p.40.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Ainda que imaginemos mundos (20)

Ao anoitecer, na mansidão da memória,
é mais fácil transpor a fronteira.
No revolver dos sonhos,
a claridade das ilusões, e a certeza:
tudo se torna evidente ao cair do dia,
quando nos perdemos no tempo
e temos dezoito, outra vez
e temos cinquenta, ou cem,
mas temos dezoito, outra vez.
De que importa a solidão de agora
quando a noite assim traz
de volta a loucura,
quando nos apercebemos que não há idades
para nos sentirmos vivos

domingo, janeiro 10, 2010

Ainda que imaginemos mundos (19)

Sou eu a razão da minha insónia,
da indefinição de uma verdade inquinada,
que cresceu, cresceu, cresceu,
numa elevação insuspeita.
Como anseio por algo que devolva
aquela errática adolescência
e a cessação da perversão
que alimenta o ardor.
Vem de há muito este tédio
e talvez mereça a inquietude,
este terror que me sugou a memória,
mas já basta, que a tempestade é evidente.
Bem sei que a solução
em mim se encontra, mas reformei-me,
talvez para sempre, e esqueci-me
de algumas caras antigas:
o meu sonho de agora
é só sentir-me eu, outra vez

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Ainda que imaginemos mundos (18)

Sempre te agradou o silêncio
de um olhar mortal
e nas palavras absentistas
que proferias,
nunca soube se por prazer
se por defeito,
eu a definhar
na quietude,
desarmado e impotente,
nas ardentes reminiscências do sangue.
Ainda resistes ao tempo,
e nesse teu olhar
experimento agora, outra vez,
os nossos mundos longínquos
(que até se tocaram).
Por um momento-instante,
neste frio invernal,
uma ideia antiga:
tudo se transfigura
mas tu, eterna,
em mim permaneces, qual rainha indecisa.
Se algum dia te conheci,
continuas sendo ilusão.
A verdade é que te descubro sempre
no delírio dos dias.

domingo, janeiro 03, 2010

Ainda que imaginemos mundos (17)


A culpa não é nossa. Nunca é nossa.
O ruído das nossas vidas sempre foi difuso
e a distância sempre nos consumiu o olhar
mas naquela noite perdi-me (perdemo-nos)
e na verdade convulsa que nos unia,
uma vontade, que ainda perdura.
Imaginei-te eterna, numa estrada intemporal
mas na clandestinidade deste longo caminho
é já difícil sentir-te: o vazio.
Sob a chuva dos dias, para sempre,
a perfeição da tua ausência a escorrer-me
pela face. E na lentidão da vida,
neste fim do horizonte, uma certeza:
hei-de reencontrar-te
numa manhã inquieta,
para, solenemente, tudo recomeçar.