Por vezes dou por mim a tentar perceber o presente. Parece que de repente me escapa o passado, como se me tirassem o tapete da memória debaixo dos pés. Paro, escuto e não ouço a memória. E então tenho de aguardar que ela regresse, como se esta fosse autónoma, como se tivesse vida própria. Sou eu a tentar aceder a um ficheiro da memória, eu a tentar aceder a mim. Um pouco à semelhança do que acontece com os computadores, quando não respondem de imediato a uma ordem e ficam a pensar até que finalmente executam a operação. Por vezes qualquer coisa corre mal e é necessário encerrar a operação para executá-la de novo. Há ficheiros que por vezes não abrem porque se danificam, sem que ninguém lhes mexa. A memória é isso mesmo. Uma série de ficheiros que necessitam de uma duplicação de suportes para que não se danifiquem e se percam. Convém reproduzi-los materialmente para que isso não aconteça. A escrita pode cumprir essa função.
Miguel Godinho
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