"Os rostos são as paisagens mais dramáticas de todas"
Abbas Kiarostami [Cineasta iraniano]
quinta-feira, junho 24, 2010
sexta-feira, junho 11, 2010
terça-feira, junho 01, 2010
segunda-feira, maio 31, 2010
Porque amanhã nunca se sabe
Para quê esperar pela voltagem do fim
quando podemos amar-nos
antes de nos desprezarmos
um dia não são dias
e os teus olhos por enquanto são selvagens
pelo menos é isso que sinto meu amor
rasga-me os olhos com essa fúria
de amor, deixa-te vir com a força que quiseres
porque amanhã nunca se sabe
se aqui estaremos a ser a loucura
que se vê
Para quê esperar pela voltagem do fim
quando podemos amar-nos
antes de nos desprezarmos
um dia não são dias
e os teus olhos por enquanto são selvagens
pelo menos é isso que sinto meu amor
rasga-me os olhos com essa fúria
de amor, deixa-te vir com a força que quiseres
porque amanhã nunca se sabe
se aqui estaremos a ser a loucura
que se vê
quarta-feira, maio 19, 2010
sábado, maio 08, 2010
Ainda que imaginemos mundos (32)
Ela punha o projecto à frente das pessoas
como se as pessoas para nada interessassem
como se ela própria não fosse também uma pessoa.
Ninguém gosta de se sentir usado
ninguém gosta de não ser visto.
Era como que um vazio sentimental
uma procura astuciosa,
a verdade que só fazia sentido na avidez,
no sentir os pares a adivinhar-lhe a imensidão.
E assim se esquecia dos colaboradores,
da necessária participação dos outros
num programa que não era só seu.
Nada se processava sem que ela não quisesse
mostrar a sua soberania sobre os demais:
a ânsia pelo poder, pelos créditos, a jurisdição,
a subtileza de mostrar quem manda.
No fundo, era um espelho daquilo que todos
nós somos, da nossa felina verdade natural:
a dissimulação
Ela punha o projecto à frente das pessoas
como se as pessoas para nada interessassem
como se ela própria não fosse também uma pessoa.
Ninguém gosta de se sentir usado
ninguém gosta de não ser visto.
Era como que um vazio sentimental
uma procura astuciosa,
a verdade que só fazia sentido na avidez,
no sentir os pares a adivinhar-lhe a imensidão.
E assim se esquecia dos colaboradores,
da necessária participação dos outros
num programa que não era só seu.
Nada se processava sem que ela não quisesse
mostrar a sua soberania sobre os demais:
a ânsia pelo poder, pelos créditos, a jurisdição,
a subtileza de mostrar quem manda.
No fundo, era um espelho daquilo que todos
nós somos, da nossa felina verdade natural:
a dissimulação
quarta-feira, maio 05, 2010
[Ode a Sílvio Berlusconi]
Um requinte essas tuas amigas abrasadas
de um oiro reluzente - a tua linhagem preferida
a toda a hora numa piscina repleta de coisas selvagens
prontas para te servir os daiquiris que pretenderes
ah! os biquínis as tangas e os músculos adornados
lavados em água-mel ah! os olhos vidrados - a nata
num sonho de brilhantina: assim se enlouquece num sossego
de cortar goelas um transe e a verdade que talvez
todos queiramos viver num silêncio quase clássico
de palmeiras orientais junto de uma floresta
impenetrável. Que bom viver num carrossel
que bom ser dono dos céus: foge que os animais ferozes
estão à espreita para te devorarem: é assim o inferno
e o paraíso onde os anjos se passeiam de barba feita
e as garças são como gatas felinas que se roçam
em todo o lado. Que lugar este, apinhado de vampiras e lobijovens
leva-me contigo lobo das neves, coloca-me na tua guest list
Um requinte essas tuas amigas abrasadas
de um oiro reluzente - a tua linhagem preferida
a toda a hora numa piscina repleta de coisas selvagens
prontas para te servir os daiquiris que pretenderes
ah! os biquínis as tangas e os músculos adornados
lavados em água-mel ah! os olhos vidrados - a nata
num sonho de brilhantina: assim se enlouquece num sossego
de cortar goelas um transe e a verdade que talvez
todos queiramos viver num silêncio quase clássico
de palmeiras orientais junto de uma floresta
impenetrável. Que bom viver num carrossel
que bom ser dono dos céus: foge que os animais ferozes
estão à espreita para te devorarem: é assim o inferno
e o paraíso onde os anjos se passeiam de barba feita
e as garças são como gatas felinas que se roçam
em todo o lado. Que lugar este, apinhado de vampiras e lobijovens
leva-me contigo lobo das neves, coloca-me na tua guest list
segunda-feira, maio 03, 2010
Na ordem do dia (2)
A propósito do livro de Ian Buruma "A Morte de Theo Van Gogh e os Limites da Tolerância", publicado pela Editorial Presença em 2007, Manuela Franco coloca algumas questões extremamente interessantes, na sua análise crítica "Dissensão em Amesterdão. Europeizar o Islão ou Islamizar a Europa?", publicada na revista Relações Internacionais n.º 18. Para pensar.
O pluralismo e a tolerância são os pilares da sociedade moderna e esse facto tem de ser aceite. Pluralismo não significa apenas diversidade. Significa também que é possível permanecer diferente e partilhar os mesmos valores e as mesmas regras. O Islão não partilha desta ideia. De resto a alegada tradição de tolerância do Islão apenas significa que Judeus e Cristãos podem viver sob a protecção muçulmana mas nunca como cidadãos de direitos iguais, coisa que às luzes europeias se chama discriminação.
(...)
E aqui ficam as perguntas a que Buruma não soube ou não quis responder: De onde vem a equanimidade da parte de tantos políticos, jornalistas e intelectuais perante o aumento exponencial das ameaças de morte e violência por parte de fundamentalistas islâmicos? A equanimidade para entrar em diálogo e aceitar conversa de quem defende o apedrejamento de mulheres até à morte? A incapacidade de reconhecer que os direitos das mulheres são um dos aspectos fundamentais nos debates sobre o islamismo? A incapacidade de nomear e reconhecer os problemas das mulheres muçulmanas na Europa? A incapacidade de reconhecer a dimensão e papel anti-democrático do “novo” antisemitismo?
A propósito do livro de Ian Buruma "A Morte de Theo Van Gogh e os Limites da Tolerância", publicado pela Editorial Presença em 2007, Manuela Franco coloca algumas questões extremamente interessantes, na sua análise crítica "Dissensão em Amesterdão. Europeizar o Islão ou Islamizar a Europa?", publicada na revista Relações Internacionais n.º 18. Para pensar.
O pluralismo e a tolerância são os pilares da sociedade moderna e esse facto tem de ser aceite. Pluralismo não significa apenas diversidade. Significa também que é possível permanecer diferente e partilhar os mesmos valores e as mesmas regras. O Islão não partilha desta ideia. De resto a alegada tradição de tolerância do Islão apenas significa que Judeus e Cristãos podem viver sob a protecção muçulmana mas nunca como cidadãos de direitos iguais, coisa que às luzes europeias se chama discriminação.
(...)
E aqui ficam as perguntas a que Buruma não soube ou não quis responder: De onde vem a equanimidade da parte de tantos políticos, jornalistas e intelectuais perante o aumento exponencial das ameaças de morte e violência por parte de fundamentalistas islâmicos? A equanimidade para entrar em diálogo e aceitar conversa de quem defende o apedrejamento de mulheres até à morte? A incapacidade de reconhecer que os direitos das mulheres são um dos aspectos fundamentais nos debates sobre o islamismo? A incapacidade de nomear e reconhecer os problemas das mulheres muçulmanas na Europa? A incapacidade de reconhecer a dimensão e papel anti-democrático do “novo” antisemitismo?
domingo, maio 02, 2010
Ainda que imaginemos mundos (31)
Poderão tentar imprimir-nos uma verdade
ao silêncio que nos orienta o olhar,
uma chama que nos presida às obsessões
mas o rigor nunca será exacto
todas as nossas paixões:
haverá sempre uma imprecisão
nunca nos poderão descortinar
um segredo profundo e antigo
um caminho percorrido
ainda que nos queiram translúcidos
e que nos exijam como a água de um manancial intacto:
o nosso trajecto, a nossa pessoa
nesta pungente sequência de dias
guarda-se sempre um ledo balão de oxigénio
uma coisa só nossa para respirarmos
por entre a excessiva poluição
Poderão tentar imprimir-nos uma verdade
ao silêncio que nos orienta o olhar,
uma chama que nos presida às obsessões
mas o rigor nunca será exacto
todas as nossas paixões:
haverá sempre uma imprecisão
nunca nos poderão descortinar
um segredo profundo e antigo
um caminho percorrido
ainda que nos queiram translúcidos
e que nos exijam como a água de um manancial intacto:
o nosso trajecto, a nossa pessoa
nesta pungente sequência de dias
guarda-se sempre um ledo balão de oxigénio
uma coisa só nossa para respirarmos
por entre a excessiva poluição
quinta-feira, abril 29, 2010
quarta-feira, abril 28, 2010
Ainda que imaginemos mundos (30)
Quis um dia seguir em silêncio
na vida, logo que me apercebi que te perdera
e assim esculpi
um percurso de sombras: a demência
que se assolou
Morreste-me sem aviso,
sem que te pudesse libertar
e que raio de claridade agora,
a serena vida dos outros
Que bom seria se para sempre
tudo se desenrolasse numa ilusão,
que pudesse existir eternidade
na paz dos novos dias
longe do vazio da minha pessoa
Quis um dia seguir em silêncio
na vida, logo que me apercebi que te perdera
e assim esculpi
um percurso de sombras: a demência
que se assolou
Morreste-me sem aviso,
sem que te pudesse libertar
e que raio de claridade agora,
a serena vida dos outros
Que bom seria se para sempre
tudo se desenrolasse numa ilusão,
que pudesse existir eternidade
na paz dos novos dias
longe do vazio da minha pessoa
domingo, abril 25, 2010
domingo, abril 18, 2010
Ainda que imaginemos mundos (28)
uma breve brisa de devastação
ainda me desenraíza do conforto
desta vida que escolhi
com a facilidade que se vê:
ainda recupero
os teus olhos vermelhos, assim,
perversos numa sombra sem fim,
numa alucinação interminável,
no desejo de lascívia, na inquietação
de um fantasma intemporal,
na irrealidade de nós dois, sepultados
para sempre na carne.
mas deixa-te estar,
por favor deixa-te estar que a minha loucura
de agora é este desejo,
a obsessão, nós sempre na guerra de sempre,
o sangue.
e a violência não está só nessa memória,
está nos dezoito, nos dezanove, nos vinte e cinco - não,
afinal não importa para nada a idade.
o começo da decadência
foi aperceber-me que te perdi
- é por isso que há sempre uma brisa de ruína
na deliciosa vertigem da memória:
a destruição torna-se sempre mais evidente
quando me apercebo de mim
e da impossibilidade do teu regresso
uma breve brisa de devastação
ainda me desenraíza do conforto
desta vida que escolhi
com a facilidade que se vê:
ainda recupero
os teus olhos vermelhos, assim,
perversos numa sombra sem fim,
numa alucinação interminável,
no desejo de lascívia, na inquietação
de um fantasma intemporal,
na irrealidade de nós dois, sepultados
para sempre na carne.
mas deixa-te estar,
por favor deixa-te estar que a minha loucura
de agora é este desejo,
a obsessão, nós sempre na guerra de sempre,
o sangue.
e a violência não está só nessa memória,
está nos dezoito, nos dezanove, nos vinte e cinco - não,
afinal não importa para nada a idade.
o começo da decadência
foi aperceber-me que te perdi
- é por isso que há sempre uma brisa de ruína
na deliciosa vertigem da memória:
a destruição torna-se sempre mais evidente
quando me apercebo de mim
e da impossibilidade do teu regresso
terça-feira, abril 13, 2010
quarta-feira, março 31, 2010
Ainda que imaginemos mundos (28)
E se os trinta às vezes fossem
como que uma transparência sempre opaca
e a vida sempre ao contrário,
um barco a remar contra a maré dos dias,
nada daquilo que um dia imaginámos ser?
A adolescência só se vive mesmo uma vez
agora acredito
e alguns dos nossos maiores sonhos
nunca se haverão de realizar.
Coragem marinheiro
coragem que o mar é bravo
E se os trinta às vezes fossem
como que uma transparência sempre opaca
e a vida sempre ao contrário,
um barco a remar contra a maré dos dias,
nada daquilo que um dia imaginámos ser?
A adolescência só se vive mesmo uma vez
agora acredito
e alguns dos nossos maiores sonhos
nunca se haverão de realizar.
Coragem marinheiro
coragem que o mar é bravo
domingo, março 28, 2010
“Death is not an event in life: we do not live to experience death. If we take eternity to mean not infinitive temporal duration but timelessness, then eternal life belongs to those who live in the present. Our life has no end in just the way in which our visual field has no limits.”
Ludwig Wittgenstein (1889 — 1951)
Um sítio brilhante para descobrir a vida e o pensamento deste filósofo austríaco.
Ludwig Wittgenstein (1889 — 1951)
Um sítio brilhante para descobrir a vida e o pensamento deste filósofo austríaco.
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