A falta de mulher é uma coisa do
caraças, e o que, e o que, e o que, e o que, e o que – que gaguez fodida,
fodida-da-da, que lhe entrava, especialmente quando alguma coisa o punha
nervoso – e o que ele queria mesmo era passar-lhe a mão pelo pêlo, àquela
vizinha que costumava despir-se todos os dias, sempre à mesma hora, no prédio em
frente, queria jogar-lhe a manápula à penugem, àquele botãozinho ardente,
arrimar-se a ela, roçar-se feito bichano, esfregar-se naquele corpinho de
cetim, que tesão aquele corpinho de cetim, aquela menina tão jasmim, mas não
sabia como, sempre que abria a boca punha-se a repetir as coisas que nem um
disco riscado, repetir que nem um disco riscado, repetir que nem um disco
riscado, tão intelectual e com este defeito na linguagem-gem, para além de
nunca ter sequer alguma vez beijado alguém, tirando aquela vez em que uma prima
mais afoita, numa tarde de verão de há muito, lhe saltou para cima, louca para
experimentar a carne, e ele, sem saber o que fazer, nervoso
que nem um pau, quase morria do coração, enquanto aquela vadia lhe mexia por
entre as pernas e o devorava, abocanhando-lhe todas as partes escondidas para
ver se o provocava, se lhe roubava algum acanhamento, se o transformava num
homem, se o punha a falar direito. E que desvario, aquele, o rapaz não merecia estar
a sucumbir de vontade, ai minha santíssima, aquela mulher tinha logo que morar ali em frente, e de ser uma loucura, e de o pôr demente de desejo, e
de se despir sempre àquela hora, na precisa hora em que ele também ali estava, todos
os dias, no prédio em frente, com o membro do meio de fora, cinco dedos a esfregarem a
coisa, a repetir desvairadamente não o que não lhe conseguia dizer mas uma
manobra de afagamento, a mão direita para a frente e para trás, para a frente
e para trás, para a frente e para trás, antes que ela se metesse para dentro e se escondesse outra
vez.
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MG 2013
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