sexta-feira, abril 12, 2013

Repetição


A falta de mulher é uma coisa do caraças, e o que, e o que, e o que, e o que, e o que – que gaguez fodida, fodida-da-da, que lhe entrava, especialmente quando alguma coisa o punha nervoso – e o que ele queria mesmo era passar-lhe a mão pelo pêlo, àquela vizinha que costumava despir-se todos os dias, sempre à mesma hora, no prédio em frente, queria jogar-lhe a manápula à penugem, àquele botãozinho ardente, arrimar-se a ela, roçar-se feito bichano, esfregar-se naquele corpinho de cetim, que tesão aquele corpinho de cetim, aquela menina tão jasmim, mas não sabia como, sempre que abria a boca punha-se a repetir as coisas que nem um disco riscado, repetir que nem um disco riscado, repetir que nem um disco riscado, tão intelectual e com este defeito na linguagem-gem, para além de nunca ter sequer alguma vez beijado alguém, tirando aquela vez em que uma prima mais afoita, numa tarde de verão de há muito, lhe saltou para cima, louca para experimentar a carne, e ele, sem saber o que fazer, nervoso que nem um pau, quase morria do coração, enquanto aquela vadia lhe mexia por entre as pernas e o devorava, abocanhando-lhe todas as partes escondidas para ver se o provocava, se lhe roubava algum acanhamento, se o transformava num homem, se o punha a falar direito. E que desvario, aquele, o rapaz não merecia estar a sucumbir de vontade, ai minha santíssima, aquela mulher tinha logo que morar ali em frente, e de ser uma loucura, e de o pôr demente de desejo, e de se despir sempre àquela hora, na precisa hora em que ele também ali estava, todos os dias, no prédio em frente, com o membro do meio de fora, cinco dedos a esfregarem a coisa, a repetir desvairadamente não o que não lhe conseguia dizer mas uma manobra de afagamento, a mão direita para a frente e para trás, para a frente e para trás, para a frente e para trás, antes que ela se metesse para dentro e se escondesse outra vez.
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MG 2013

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