quinta-feira, abril 18, 2013

não lhe venham agora dizer


só lhes ficava bem admitirem a manifesta incompetência, lia-se isso na cara da dona maria, era por demais óbvia aquela expressão deprimida, uma simples expressão, um olhar humilde de derrota, de desgraça, coitada, cinquenta anos e sem dinheiro para alimentar os filhos, agora, depois de uma vida inteira de trabalho duro, que forte aquele olhar, um olhar capaz de nos fazer experimentar os calos que transportava nas mãos, as lágrimas que lhe caem dos olhos todas as noites, a preocupação por não estar a ser capaz de aguentar a dura realidade, se esta gente ao menos fosse capaz de reconhecer os erros sucessivos, a porcaria que têm vindo – todos –  a fazer, um olhar que desejava que fossem homens o suficiente para admitir que talvez não fosse má ideia irem pregar para outra paróquia, para um lugar distante deste em que ela se encontra, em que se encontram as pessoas que todos os dias têm de sofrer com os erros desta gente, erros cada vez mais evidentes, desta corja, deste bando de abutres que teimam em sugar o pouco ou nada que ainda resta, eles e o resto da equipa que serve interesses externos, interesses maiores, muito maiores do que todos aqueles que como ela agora não sabem o que fazer da vida, não sabem o que fazer da vida, não é a dona maria a culpada desta merda, não são as donas marias as culpadas desta merda, porquê que tem de ser elas a pagar a factura, porquê que têm de ser elas a pagar a factura, não lhe venham agora dizer que não há verdadeiros culpados nesta história, não lhe venham agora dizer
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MG 2013

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