só lhes ficava bem admitirem a manifesta incompetência, lia-se isso na cara da dona maria, era por demais óbvia aquela expressão deprimida,
uma simples expressão, um olhar humilde de derrota, de desgraça, coitada,
cinquenta anos e sem dinheiro para alimentar os filhos, agora, depois de uma
vida inteira de trabalho duro, que forte aquele olhar, um olhar capaz de nos
fazer experimentar os calos que transportava nas mãos, as lágrimas que lhe caem
dos olhos todas as noites, a preocupação por não estar a ser capaz de aguentar
a dura realidade, se esta gente ao menos fosse capaz de reconhecer os erros
sucessivos, a porcaria que têm vindo – todos –
a fazer, um olhar que desejava que fossem homens o suficiente para
admitir que talvez não fosse má ideia irem pregar para outra paróquia, para um
lugar distante deste em que ela se encontra, em que se encontram as pessoas que
todos os dias têm de sofrer com os erros desta gente, erros cada vez mais
evidentes, desta corja, deste bando de abutres que teimam em sugar o pouco ou
nada que ainda resta, eles e o resto da equipa que serve interesses externos,
interesses maiores, muito maiores do que todos aqueles que como ela agora não
sabem o que fazer da vida, não sabem o que fazer da vida, não é a dona maria a
culpada desta merda, não são as donas marias as culpadas desta merda, porquê
que tem de ser elas a pagar a factura, porquê que têm de ser elas a pagar a
factura, não lhe venham agora dizer que não há verdadeiros culpados nesta história,
não lhe venham agora dizer
.
MG 2013
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