ideias brancas, ideias ainda cheias de nada, a folha a levar com a matéria bruta, o produto cru, a palavra primeira, o acto de pensar, algo que acontece primordialmente na cabeça, podia despejar toneladas de tudo aqui para cima mas
não sei o que se sucederia depois, se resultaria, se se extrairia alguma coisa
desse acto, se não seria apenas uma conduta de desespero, com certeza que sim,
uma atitude irreflectida, um movimento imponderado, afinal nenhum texto se
escreve sozinho, um livro precisa sempre de alguém que lhe ordene as ideias, as
palavras, alguém que ponha ordem no que se quer dizer, ou talvez não, talvez redigir
também possa ser apenas um debitar do que nos vêm à cabeça, escrever é pensar,
afinal, ou não é, às vezes penso que escrever pode ser somente isto mesmo, uma desarrumação,
um alvoroço, uma coisa em construção, algo que vai acontecendo à medida que vai
acontecendo, isto que para aqui se está passar
.
MG 2013