terça-feira, abril 01, 2008

A memória

Nesta sala quieta o silêncio dispersa-se rapidamente. É como se o mar invadisse o espaço sem uma onda de aviso. Nas vidraças rectangulares deste prédio pouco habitado uma luz fugidia irrompe serenamente na penumbra. São muitas as vezes em que os gritos desse silêncio revelam o teu nome. Nenhum som me perturba mais do que a forma do teu nome desenhado nas ondas desse silêncio. Não era suposto permaneceres aqui, num local que nada tem que ver contigo. Ou serei eu que não pertenço aqui, neste local onde tu já não fazes sentido? A memória tem destas coisas. Faz-nos questionar a vida que levamos e traz-nos à lembrança as pessoas que por vezes nada têm que ver com os momentos em que as evocamos. Talvez sirva apenas para nos fazer ver que nós afinal é que não devíamos ali estar.

(ao escrever memória, enganei-me e escrevi mnemória – até tem a sua piada, o termo – prometo que voltarei a este engano)

Miguel Godinho

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