Al-gharb 1146
Não fosse a obstinação de um filho da mãe impaciente pelo direito à terra, devido à morte prematura de seu pai (seria?) e talvez ainda hoje no Gharb Al-andalus se passassem as tardes à luz de poesia e de acordes “alaúdescos”. Ao invés, esta mesma região viria a tornar-se num Portucale cristão, obsceno e altamente promíscuo, carregado de insensibilidade e intolerância perante o refinamento da cultura oriental. Como que por vingança, Allah viria a impor ao Deus Cristão uma pena que obriga ainda hoje a vida neste território (especialmente nas regiões mais a sul) a correr de uma forma mais lenta... É uma das heranças dos tempos em que a vida era branda e requintada, onde a Cultura era sublime e um dos pilares do Ser.
Após a leitura de Al-Gharb 1146 de Alberto Xavier é esta a impressão que nos fica. Esta obra de ficção histórica, recentemente lançada pela Editora Bertrand, transporta-nos para os tempos do Al-Andalus (a zona que correspondia à P. Ibérica, governada pelos muçulmanos). O Al-Gharb designava a parte mais ocidental deste território (a Lusitânia romana), inserida numa pequena parcela da Estremadura espanhola.
O autor inventa uma história a partir de dados históricos concretos, transportando o leitor para aquele passado perfumado e carregado de cor, quase que numa empresa académica, propondo ao mesmo tempo, explicações para os nomes actuais das terras, para as relações políticas, para os ambientes de época, embora as personagens não sejam mais do que o motor para apresentar o panorama histórico dos conflitos existentes à época, sendo que, muito possivelmente, e de acordo com os dados históricos, esta narrativa não foi mas poderia muito bem ter sido verídica.
Assim, somos convidados, de uma forma muito apurada e pormenorizada, a “visitar” a paisagem cultural da época, as formas de inter-relacionamento entre as várias autoridades, as ocupações das mesmas, os interesses, a alimentação, o vestuário, a visão sobre o “Outro”, a visão do mundo.
Uma proposta de leitura obrigatória. Para nos fazer almejar com o Gharb refinado e perfumado dos tempos em que este se orientava para Meca.
Miguel Godinho
publicado no "Jornal do Algarve" de 2 de Novembro de 2006
1 comentário:
Calculo que o autor desta crítica tenha lido um livro diferente do que eu li.
Porque o mesmo livro na minha interpretação é uma obra de ficção, altamente estilizada, cheia de anacronismos (tabela periódica? mundo microscópico?), estrangeirismos permanentes e descabidos, repleto de homoerotismo e promiscuidade permanente, completamente despropositada para a história em questão.
Foi-me oferecido na ideia de ser um romance histórico, quando muito é na prática uma versão fantasista e inverosimel da época.
A minha opinião claro, mas eu nunca publiquei nada.
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