Um amigo de outrora
Vi um amigo de outrora.
Apresentou-me um enredo. Foi uma história tão mal contada que ninguém acreditou. Também não se importara nada com isso. Pretendia apenas uns trocos para que pudesse satisfazer o vício e perder-se de novo em sonhos e delírios heróicos que lhe acalmariam as dores físicas e a ansiedade espiritual. Daquela cabeça brotava apenas uma necessidade: colocar o cinto no braço, premir o gatilho da pistola e disparar a bala que o transportaria para o purgatório do deleite, esse limbo de lama e trepadeiras de cor escura que se afilam pelas paredes e pelos corpos estendidos, amontoados em torno daquela substância que lhes dá vida e que ao mesmo tempo os mata.
Foi triste observar esse cenário de dor.
Miguel Godinho
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