terça-feira, julho 23, 2013

o tempo por entre as fendas

os dias já foram tão grandes, as horas que não passavam, o vagar do mundo, tudo a demorar-se eternamente, o tempo que se deixava ficar, pachorrento, o tempo deitado sobre nós, o tempo que não escorria, os meses que gotejavam, era tudo tão arrastado, nós a rastejarmos pelos sítios à espera que a vida se acelerasse, que tudo pudesse acontecer mais rapidamente, nós e o tédio sempre de mãos dadas, e agora é a velocidade que parece estar constantemente a galgar os interstícios das horas, por entre as fendas, as coisas sempre a lembrarem que «estamos a ficar velhos», estamos pois, ainda ontem tivemos dezoito anos e estávamos enfastiados, agora parece que não há tempo para nada, para onde foi o tempo?, agora já não há horas vagas, só segundos ou minutos, o dia começa e não tarda já acabou, os meses sucedem-se à velocidade da luz, o tempo agora é supersónico, e é verdade: estamos a ficar velhos, caraças, temos filhos, temos contas para pagar, temos preocupações e vemos a vida a passar-nos à frente com uma corda atada ao nosso pescoço, a vida a correr connosco, a gritar-nos ao ouvido: despacha-te a viver, anda daí, despacha-te a viver que não tarda já viveste tudo aquilo a que tinhas direito, não tarda já viveste tudo aquilo a que tinhas direito
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mg 2013

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