parece-me que as coisas se começam a tornar cada vez mais
claras: se ao menos sentíssemos que nos ouviam – ninguém nos ouve realmente – que
escutavam as nossas preocupações – quais
são as nossas preocupações? – que se importavam com aquilo que estamos a sentir
agora – o que é que estamos a sentir agora? – que pudessem levar em conta as nossas
inquietações; se ao menos se apercebessem do nosso desconforto, da desilusão, do
desencanto, da frustração, da relevância das nossas ideias, actualmente pousadas
apenas num simples desejo de autonomia e de liberdade, de necessidade de um
mundo melhor, de mais humanidade – as pessoas precisam de mais humanidade, de
se libertar das ofensivas dos telejornais, da brutalidade urbana, deste mundo
assente na violência visual, as pessoas precisam de se sentirem livres –
sentes-te livre? – não precisam de jogos políticos, da disputa desenfreada pelo
poder, as pessoas abominam estas democracias de algibeira, estes democratas, a hipocrisia
de quem nos conduz – quem é que nos conduz realmente? – de se desenvencilhar destes
senhores cheios de orientações económicas e liberais; nunca te esqueças que a
palavra é uma arma, a tua palavra é uma arma, a tua prosa, a tua poesia, a tua capacidade
de pensar, de fazer frente com o intelecto, mostra-lhes isso, mostra-te isso,
enche-te disso, dessa fúria, desse desejo que as coisas mudem, ostenta a teu insatisfação,
mostra que não há forma de te imporem nada, que não há barreiras, não há, ninguém
te segura, porque tu és livre e tão depressa estás calmo e passivo como a
seguir se te instala o caos, tão depressa estás calmo e passivo como a seguir
se instala o caos
.
MG 2013
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