Os nossos dias (18)
Neste recinto engulo os gritos e enterro
as alucinações na surdez destas paredes
uma voz que aqui se derrame logo se perde
neste espaço que parece um poço
onde os sonhos morrem afogados à nascença
(outra vez o telefone)
Sim, muito boa tarde, faça o favor de dizer
(logo agora que estava prestes a encontrar-me)
Olá, Sr. Engenheiro, como está? É um prazer ouvi-lo de novo
claro que vou rever o seu dossier
deixarei esse assunto pronto ainda hoje
na aflição de ser alguém
uma profunda sensação de desespero
quem sou eu como é que aqui cheguei
no que é que me tornei
para quê esta hipocrisia?
(a duplicidade a devorar-me as ideias)
talvez um dia a demência me percorra
ou será que já lá estou?
Miguel Godinho
1 comentário:
se calhar estamos todos, Miguel!
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