O Algarve Histórico ainda não existe
Enquanto algarvio, tenho de agradecer às instituições nacionais de turismo e cultura, (neste caso ao ITP – Instituto de turismo de Portugal) por, de uma maneira constante e continuada, tentarem inserir a região algarvia no panorama turístico de regiões com interesse histórico e cultural em Portugal. Refiro-me mais concretamente a um folheto informativo daqueles tipo “Vá para fora cá dentro” do ITP e das Regiões de Turismo de Portugal, que alguns jornais de tiragem nacional forneciam no passado domingo e que com certeza se pode achar distribuído gratuitamente por vários pontos do país (postos de turismo, hotéis, bibliotecas, etc.). Neste é possível encontrar todo um roteiro nacional (?) de alguns sítios que apresentam potencial histórico/cultural, com vários pontos de interesse um pouco por todo o país, mas em que, curiosamente, abaixo de Évora, nada surge de maior importância que valha a pena descobrir. Pelo menos é o que deduzo após a leitura do mesmo. Tal como vem sendo hábito afirmar desde há muito, mesmo muito tempo, a região do Algarve (ou o “reino dos Algarves”, sozinho e desanexado?) possui como único atractivo a oferta do tradicional pacote sol/praia, proporcionando ao costumado turista sazonal a certeza de um fim-de-semana que lhe deixará, antes de uma marca na memória, um bronze digno de um verdadeiro camarão. Sem colocar em causa as opções das pessoas, uma vez que também eu adoro praia - como algarvio que sou - e aprecio passar um fim-de-semana repleto de sol, acho que as instituições que têm a cargo a divulgação das nossas potencialidades turísticas devem de uma vez por todas fazer ver que a nossa região não é só isso. A História também deixou marcas nesta região. Talvez de uma importância que valha a pena ser mostrada. No exemplo que se aponta aqui, o de um folheto que olvida o passado do sul do país, instituições como a Região de Turismo do Algarve deviam ter a iniciativa de tentar mostrar (exercendo a sua influência) a complementaridade histórico/cultural que a nossa região pode oferecer ao turismo que busca o sol e a praia, procurando inserir o Algarve nos roteiros portugueses de interesse para este tipo de turismo. Deve perceber-se de uma vez por todas que a componente cultural complementa (e não rivaliza) o sol e a praia.Compreendo que as escolhas para a composição do folheto tivessem que ver com escolhas dos monumentos de importância maior em Portugal como são exemplo o Mosteiro dos Jerónimos em Belém, ou o Convento de Cristo em Tomar, ou ainda a paisagem vitivinícola do Douro, mas e então por exemplo a paisagem protegida de Sagres que tanta importância teve nos Descobrimentos e continua a ter do ponto de vista ambiental/ecológico/paisagístico?Compreende-se que um dos objectivos da brochura seja o de direccionar as pessoas para pontos históricos de vital importância, mostrando diferentes pontos de interesse que não o turismo de sol e praia, apelando à História do país, o que para mim é louvável, especialmente na parte que tocaria ao Algarve, se este se visse incluído. Mas porque não direccionar esses mesmos visitantes para outros pontos nesta região em vez de ignorá-la? Seria interessante mostrar que o Algarve também tem potencial histórico a par do turismo de praia. A nossa região ainda possui muitas e variadas valências… Enfim, sítios de importância comummente dita de “maior” ainda temos alguns, valores históricos também não nos faltam, vontade de afirmação, capacidade e interesse em confrontar interesses maiores é que é pior…Miguel Godinho
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