terça-feira, agosto 16, 2005

A “mediatização” cultural

Nos dias que correm, acho que posso afirmar que um dos pontos mais importantes a desenvolver nas estruturas culturais é o de encontrar o ponto de contacto entre as elites pensantes e actuantes e aquilo que frequentemente se chamam de “massas populacionais”. E, nesta matéria, a promoção mediática da cultura desempenha um papel fundamental, no sentido de servir de elo de ligação entre os dois grupos referidos e também na tentativa de captação de novas audiências, estimulando ao mesmo tempo a procura dos públicos que em matéria cultural já se encontram mais receptivos, mais instruídos.Sem dúvida que a Cultura está hoje claramente mais enquadrada “numa base de entretenimento e de lazer” facto que não é necessariamente mau – foi o mundo que se moldou neste sentido – e, como tal, os mecanismos de captação de públicos têm de se orientar neste sentido. Cabe às instituições (e não só às públicas) desenvolver, apoiar e favorecer as iniciativas de índole artístico e cultural, pedagógico, científico, numa busca por uma maior e melhor instrução populacional, apostando nas novas tecnologias de animação e dinamização cultural. Estas mostram-se primordiais, especialmente no que toca às gerações mais novas, habituadas que estão a lidar com elas.Assim, e seguindo esta linha de pensamento, as estratégias utilizadas para a adequação entre a produção cultural e a “massa populacional” têm obrigatoriamente que passar por uma promoção que permita aos eventos, projectos, bens, monumentos, adquirir uma clareza expositiva capaz de cativar e atrair públicos que legitimem os investimentos realizados.O consumo cultural também necessita de ser estimulado. E os lucros podem ser muito grandes em termos de formação do indivíduo e da sociedade, já para não falar em termos monetários, uma vez que também nesta matéria os rendimentos podem ser elevados. A instrução cultural também passa por incentivar os públicos a frequentarem salas de espectáculos. De que serve termos um bom espectáculo se ninguém sabe quando, onde se vai realizar e do que este trata. É a promoção que atribui visibilidade à oferta cultural. Se esta não for correcta e se a exposição mediática para o público não for clara e democrática não se consegue sair da esfera das “elites culturais”.Sem retirar qualquer tipo de legitimidade a estas (que quanto a mim devem existir devido ao papel estimulante que desempenham a nível intelectual), a cultura deve ser acessível a todos, mas também é necessário que todos saibam que ela existe, que é real e que pode dar frutos a nível de formação pessoal e social, ao mesmo tempo que transporta potencial económico e benefícios fiscais…Faro, 5 de Maio de 2005Miguel Ângelo Mendes Godinho

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