Uma gaveta desarrumada
Quando me olhas, sinto-me
uma gaveta desarrumada
é como se os teus olhos fossem
mãos à procura de mim
por entre todas as coisas
sem interesse que fui
colocando no meu interior
Miguel Godinho
segunda-feira, junho 30, 2008
sexta-feira, junho 27, 2008
Os nossos dias (14)
[A pocilga]
Há madames que cheiram mal
apesar da sua extrema higiene
e senhores com bom ar
mas com nariz de bacorinho
há de tudo neste mar
de badalhocos por onde navego
só de olhar já tenho comichão
Às vezes penso que sou eu que
imagino porcos em todo o lado
mas ainda agora na mesa atrás
ouvi alguém grunhir bem alto
- um café, por favor, que o sol já queima
e a praia não espera
com tanto suíno a querer ser
atendido ao mesmo tempo
mais valia ter tentado outra pocilga
Miguel Godinho
[A pocilga]
Há madames que cheiram mal
apesar da sua extrema higiene
e senhores com bom ar
mas com nariz de bacorinho
há de tudo neste mar
de badalhocos por onde navego
só de olhar já tenho comichão
Às vezes penso que sou eu que
imagino porcos em todo o lado
mas ainda agora na mesa atrás
ouvi alguém grunhir bem alto
- um café, por favor, que o sol já queima
e a praia não espera
com tanto suíno a querer ser
atendido ao mesmo tempo
mais valia ter tentado outra pocilga
Miguel Godinho
quinta-feira, junho 26, 2008
Os nossos dias (13)
[Ontem transpus a noite]
Ontem transpus a noite com a mente repleta de sonhos
e na penumbra das sombras adormeci
nada nem ninguém capaz de me obstruir as intenções
nunca uma necessidade de salvação tão colossal
lambi um dedo cheio de cores e de vida
e de luz, como quem beija um gelado
e ali me demorei à espera dos vultos enquanto contemplava o infinito
rápidos movimentos sanguíneos num percurso determinado
e o presente-agora comandado pelo desejo e as ideias a vaguearem
por entre as ruas entrelaçadas numa dormência
o riso das pessoas chegou mesmo a coçar-me a cabeça
e seus cabelos adormentaram-me a viagem
vastas porções de transeuntes a esquecerem-se de mim
enquanto lhes gritava ao ouvido palavras de silêncio
na vida tudo passa, tudo morre (assim que nasce), tudo mesmo
as ideias são assim e a noite de ontem também foi
um minuto desde que a galguei com a mente repleta de sonhos
até que me esqueci de vez de mim ao percorrer todos os bailes
cheguei inclusive a olhar-me lá de cima
(a vertigem de nós próprios é uma sobremesa deliciosa)
toda a gente de braços no ar à espera deles mesmos
num carrossel de fantasias a descarrilar toneladas de impressões
(a dopamina subiu bastante o valor por litro
e nem nós nem ninguém nas ruas com um camião encostado em protesto
não há ninguém para defender esta esfera sectorial)
foi assim a minha noite, toda a noite e mais um pouco do outro dia
à espera que os lobos à solta uivassem mais alto que eu
foi assim a minha noite, a caminhar na solidão
Miguel Godinho
[Ontem transpus a noite]
Ontem transpus a noite com a mente repleta de sonhos
e na penumbra das sombras adormeci
nada nem ninguém capaz de me obstruir as intenções
nunca uma necessidade de salvação tão colossal
lambi um dedo cheio de cores e de vida
e de luz, como quem beija um gelado
e ali me demorei à espera dos vultos enquanto contemplava o infinito
rápidos movimentos sanguíneos num percurso determinado
e o presente-agora comandado pelo desejo e as ideias a vaguearem
por entre as ruas entrelaçadas numa dormência
o riso das pessoas chegou mesmo a coçar-me a cabeça
e seus cabelos adormentaram-me a viagem
vastas porções de transeuntes a esquecerem-se de mim
enquanto lhes gritava ao ouvido palavras de silêncio
na vida tudo passa, tudo morre (assim que nasce), tudo mesmo
as ideias são assim e a noite de ontem também foi
um minuto desde que a galguei com a mente repleta de sonhos
até que me esqueci de vez de mim ao percorrer todos os bailes
cheguei inclusive a olhar-me lá de cima
(a vertigem de nós próprios é uma sobremesa deliciosa)
toda a gente de braços no ar à espera deles mesmos
num carrossel de fantasias a descarrilar toneladas de impressões
(a dopamina subiu bastante o valor por litro
e nem nós nem ninguém nas ruas com um camião encostado em protesto
não há ninguém para defender esta esfera sectorial)
foi assim a minha noite, toda a noite e mais um pouco do outro dia
à espera que os lobos à solta uivassem mais alto que eu
foi assim a minha noite, a caminhar na solidão
Miguel Godinho
terça-feira, junho 24, 2008
Barcelona
Sempre que desta pequeníssima terra saio
uma tesoura de vida dilacera
a fina membrana exterior
enquanto a íris se abre desmesuradamente
na tua presença
a consciência de um caminho inútil por percorrer
ainda e só para me enxergar
na sombra e na intensidade desta ilusão
um raio de nostalgia
no vórtice das memórias de um tempo antigo
distrai-se na alucinação de um futuro melhor
mas
eis que tu aqui uma vez mais
me olhas nos olhos
enquanto carpido por não ser
honesto comigo mesmo
queria apenas dar o passo e voar
para essa terra onde me sinto vivo
Miguel Godinho
Sempre que desta pequeníssima terra saio
uma tesoura de vida dilacera
a fina membrana exterior
enquanto a íris se abre desmesuradamente
na tua presença
a consciência de um caminho inútil por percorrer
ainda e só para me enxergar
na sombra e na intensidade desta ilusão
um raio de nostalgia
no vórtice das memórias de um tempo antigo
distrai-se na alucinação de um futuro melhor
mas
eis que tu aqui uma vez mais
me olhas nos olhos
enquanto carpido por não ser
honesto comigo mesmo
queria apenas dar o passo e voar
para essa terra onde me sinto vivo
Miguel Godinho
segunda-feira, junho 16, 2008
A ilha de Tavira
Uma sagres à beira mar
na ardência da tarde dormente.
Nesta praia as ostras habitam no meio
das pernas e os lagartos movimentam-se
por entre as dunas, em jornadas viris,
dançando nas ondas caniculares,
bamboleando-se por entre os fartos farfalhos
daqueles que pouco se importam
com preconceitos alheios
Aqui pouco mais há para fazer
para além de olharmos o trânsito
e de nos sentirmos longe
contemplando o azul do mar
de tocha na mão
Miguel Godinho
Uma sagres à beira mar
na ardência da tarde dormente.
Nesta praia as ostras habitam no meio
das pernas e os lagartos movimentam-se
por entre as dunas, em jornadas viris,
dançando nas ondas caniculares,
bamboleando-se por entre os fartos farfalhos
daqueles que pouco se importam
com preconceitos alheios
Aqui pouco mais há para fazer
para além de olharmos o trânsito
e de nos sentirmos longe
contemplando o azul do mar
de tocha na mão
Miguel Godinho
quarta-feira, junho 04, 2008
Os nossos dias (12)
[Nada mais para além da ausência]
Nada mais para além da ausência
vazio solene de histórias em branco
num silêncio outorgante da verdade
uma voz, uma só voz de mistério
na penumbra do imenso chão de pedra
a percorrer a apatia de uma vontade cansada
às vezes penso que me escapei de mim
fiquei preso às cordas de um passado ofegante
num grito de sangue a manchar a memória
rasgo sempre a luz e a sombra retorna
acabo sempre por cair no nada e em mim
nada mais para além da ausência
Miguel Godinho
[Nada mais para além da ausência]
Nada mais para além da ausência
vazio solene de histórias em branco
num silêncio outorgante da verdade
uma voz, uma só voz de mistério
na penumbra do imenso chão de pedra
a percorrer a apatia de uma vontade cansada
às vezes penso que me escapei de mim
fiquei preso às cordas de um passado ofegante
num grito de sangue a manchar a memória
rasgo sempre a luz e a sombra retorna
acabo sempre por cair no nada e em mim
nada mais para além da ausência
Miguel Godinho
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