Os nossos dias (8)
[Uma rodinha para inalar o futuro]
Nem sequer já sinto outro tempo
que não este
a percorrer-me a aorta
num rio de sensações seculares
a vergar-me a memória
Ò tempo volta para trás
Um coelho a correr por dentro de nós
e nós à caça dele como quem separa batatas
enquanto a pedra nos percorre a cabeça
(e que grande pedra)
deixemo-la pender (a cabeça)
como quem repousa
por debaixo da alfarrobeira
e resguardá-la por debaixo do tronco,
por debaixo da espinha vertebral
(e que grande pedra)
(e que grande espinha)
Por debaixo da pedra sai um lagarto
(e que grande lagarto)
Tomemos uma trip de TNT
e lavemo-nos na chuva que nos percorre a face
fechemos os olhos outra vez e olhemos em frente
Como se não houvesse amanhã
Uma rodinha para inalar o futuro
como quem dança uma modinha
e abraçar-nos a olhar o destino
com lágrimas de crocodilo
montemos o motociclo do tempo sem capacete
e gritemos:
NHAU
Miguel Godinho
Sem comentários:
Enviar um comentário