sexta-feira, maio 09, 2008

Nas chuvas de Maio

Nas chuvas de maio
ainda o Inverno se impõe e
no roxo dos horizontes distantes
Faro a surgir
por detrás da nuvens, de frente para o mar

é sempre às terças, nas visitas-relâmpago
que a minha mãe me lembra da distância.
A minha irmã a abrir-me a porta da mesma forma
que quando lhe pedia asilo
(é sempre assim, sempre foi assim, não poderia agora não ser assim)
e a fechá-la duas horas depois
a perguntar-me quando voltas

nem os amigos tenho tempo para beijar
porque amanhã toca de novo o despertador
à hora do costume, antes de o sono me acordar


podia tão bem cagar para tudo isto
e render-me à Ria, como tu
dizes-me que chega bem para degustar a vida
tanto mais que tudo é mais fácil
de frente para o mar

Miguel Godinho

[ao João Bentes em particular, e ao pessoal de Faro, no geral]

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