Entendo a poesia e a escrita como a arqueologia do Ser. Aprofundar, descobrir, retirar aquilo que se encontra em mim e que foi soterrado pelo tempo, aquilo que necessita de uma reinterpretação, que precisa de ver novamente a luz do dia. O que escrevo tem que ver portanto, com assuntos que se querem revolvidos, com matérias passadas, com temas pretéritos que reclamam uma nova abordagem. Nesse sentido, acho que um qualquer assunto nunca fica de todo resolvido, nunca se esgota no momento em que me confronto primeiramente com ele. Há sempre uma questão que fica, uma história que pode sempre ter um final diferente, mesmo que aparentemente tenha já terminado. Por isso, sou completamente contra quem acha que quando se fecha um livro, ele não deve ser lido de novo, com uma renovada percepção, tentando novas acepções aos seus conteúdos. Tudo isto para dizer: terei sempre de me olhar ao espelho e terei sempre de regressar à origem. É lá que vive a minha constância, aquilo que nunca muda em mim. O meu cenário.
Miguel Godinho
3 comentários:
Gostei do que vi e vou voltar...já te encontrava com as tuas palavras no sulscrito e agora virei para ler-te aqui também. Ainda bem , estás linkado .
Então a Tua poesia é como uma "archeologia ad usum animae" à maneira de Ruy Cinatti...
O Poeta recria-se e recria no seu processo arqueológico que, ao contário do outro, não é um processo destrutivo! Continua a poetar...
Não tenho bem a certeza se não será um processo destrutivo... Quando se recriam memórias, a transformação das mesmas é inevitável. E, nesse sentido, não sei se não estaremos perante uma destruição...
Obrigado pelo comentário.
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