Ainda que imaginemos mundos (25)
Na ilusão desta tarde agreste
somos outra vez assim: perpétuos
mas esta verdade é como o tempo,
que se esfuma sempre.
Onde andas desde aquele dia
em que nos sentimos uma última vez?
Onde andas meu amor selvagem?
Um pássaro longínquo que passa
anuncia-me sempre o teu regresso
e aqui me descubro, alheio, a olhar os dias.
É sempre assim quando um desejo feroz
se impõe e os teus olhos irrompem:
o reflexo de uma inocência celeste,
um objecto inominável, uma coisa,
uma esquina, um clarão:
tudo me traz de volta o teu cheiro.
Mas gosto de pensar
que seremos sempre um só
sempre que um de nós quiser
terça-feira, fevereiro 23, 2010
sábado, fevereiro 20, 2010
Ainda que imaginemos mundos (24)
Os dias parecem-me sempre incompletos.
nada acontece, nada de importante, nada de mais
são sempre as mesmas caras,
no mesmo sítio, sempre no sítio: é o costume:
segunda das nove e vinte às cinco e meia
terça das nove às cinco e trinta e cinco
quarta das nove e vinte às cinco e quarenta e cinco
quinta das nove e um quarto às seis
sexta das nove e meia às cinco.
e hoje é sábado e aqui me vejo sentado, outra vez
de caneta em punho a contar a semana ao papel.
Amanhã será o dia em que mais me parece
que os dias são incompletos
Os dias parecem-me sempre incompletos.
nada acontece, nada de importante, nada de mais
são sempre as mesmas caras,
no mesmo sítio, sempre no sítio: é o costume:
segunda das nove e vinte às cinco e meia
terça das nove às cinco e trinta e cinco
quarta das nove e vinte às cinco e quarenta e cinco
quinta das nove e um quarto às seis
sexta das nove e meia às cinco.
e hoje é sábado e aqui me vejo sentado, outra vez
de caneta em punho a contar a semana ao papel.
Amanhã será o dia em que mais me parece
que os dias são incompletos
quinta-feira, fevereiro 11, 2010
terça-feira, fevereiro 09, 2010
Ainda que imaginemos mundos (23)
Não importa que os dias se extingam
sem que nos apercebamos da sua passagem
enquanto fixamos uma caixa negra,
das nove às cinco, a troco de capital,
já que esta vida se sucede a favor
de uma suposta felicidade.
Ensinaram-nos que se faiscarmos diariamente
numa loucura prenunciada
então um dia poderemos ser grandes senhores,
ricos patrões, proprietários abastados
recheados de contentamento
se alguém, como tu,
estas palavras ler e pensar:
que verdade esta que aqui se diz
então que rasgue os dias de poesia
e queime este mundo obtuso
onde muitos vivem a julgar
que com ideias destas nos distraímos
de uma prometida ilusão de veraneio
a vida não só será bela
se tivermos bagulho no bolso:
pelo menos é o consta deste meu delírio
Não importa que os dias se extingam
sem que nos apercebamos da sua passagem
enquanto fixamos uma caixa negra,
das nove às cinco, a troco de capital,
já que esta vida se sucede a favor
de uma suposta felicidade.
Ensinaram-nos que se faiscarmos diariamente
numa loucura prenunciada
então um dia poderemos ser grandes senhores,
ricos patrões, proprietários abastados
recheados de contentamento
se alguém, como tu,
estas palavras ler e pensar:
que verdade esta que aqui se diz
então que rasgue os dias de poesia
e queime este mundo obtuso
onde muitos vivem a julgar
que com ideias destas nos distraímos
de uma prometida ilusão de veraneio
a vida não só será bela
se tivermos bagulho no bolso:
pelo menos é o consta deste meu delírio
domingo, fevereiro 07, 2010
Paradise circus: o circo do paraíso.
Nova música, do novo albúm de Massive attack. Brilhante. Bem ao estilo de Mezzanine.
Ainda que imaginemos mundos (22)
Só esperávamos um dia ser capazes
de incapacitar a força dos nossos olhos
(ou talvez não)
queríamos qualquer coisa que nos inventasse outra vez:
talvez assim esquecêssemos a podridão
deste mundo enfermo
onde tantas vezes nos imaginamos outros
onde tentamos refrescar a ilusão,
onde tudo é incompreensível,
onde tantas vezes nos escondemos:
há sempre um muro invisível a separar-nos de nós
que bom seria se a claridade resplandecesse,
se uma força imensa nos inundasse com a nossa presença
(ou talvez não) assim: nus e impuros
assim: sujos de nós
tantas coisas se disseram, coisas sem sentido
e os outros, incrédulos (eles no fundo sabem)
mas no fundo nada sabem de nós
se ao menos um dia nos deixássem ser
o que um dia quisemos ser
talvez o tempo regressasse de novo àquele tempo sem tempo
à volúpia daquela verdade arcaica
mas no fundo sabemos claramente que nunca,
nunca mais podemos ser nós
Nova música, do novo albúm de Massive attack. Brilhante. Bem ao estilo de Mezzanine.
Ainda que imaginemos mundos (22)
Só esperávamos um dia ser capazes
de incapacitar a força dos nossos olhos
(ou talvez não)
queríamos qualquer coisa que nos inventasse outra vez:
talvez assim esquecêssemos a podridão
deste mundo enfermo
onde tantas vezes nos imaginamos outros
onde tentamos refrescar a ilusão,
onde tudo é incompreensível,
onde tantas vezes nos escondemos:
há sempre um muro invisível a separar-nos de nós
que bom seria se a claridade resplandecesse,
se uma força imensa nos inundasse com a nossa presença
(ou talvez não) assim: nus e impuros
assim: sujos de nós
tantas coisas se disseram, coisas sem sentido
e os outros, incrédulos (eles no fundo sabem)
mas no fundo nada sabem de nós
se ao menos um dia nos deixássem ser
o que um dia quisemos ser
talvez o tempo regressasse de novo àquele tempo sem tempo
à volúpia daquela verdade arcaica
mas no fundo sabemos claramente que nunca,
nunca mais podemos ser nós
quarta-feira, fevereiro 03, 2010
Há escritores tão macacos (perdoem-me os macacos, que nenhuma culpa têm no cartório) que às vezes parece que transformam a idiotice na sua imagem de marca. Não só no papel, mas também na imagem que projectam de si próprios. Nesta questão, a idade nem sempre é uma condicionante, mas quase sempre é um factor de importância maior.
Não queiramos ser aquilo que não sabemos ser. Porque soa a macaquice. O que é facto é que estes idiotas (que sabem sê-lo com verdadeira classe de idiotas, diga-se de passagem), muitas vezes, são transportados, por enredos onde as operações de charme muito têm a dizer, para um (mini) estrelato idiota. E eles gostam. E falam disso (porque na realidade não sabem escrever). E são felizes.
Deixemo-los serem idiotas. Ao menos, à falta de algo melhor, dá-nos um assunto para escrever.
Não queiramos ser aquilo que não sabemos ser. Porque soa a macaquice. O que é facto é que estes idiotas (que sabem sê-lo com verdadeira classe de idiotas, diga-se de passagem), muitas vezes, são transportados, por enredos onde as operações de charme muito têm a dizer, para um (mini) estrelato idiota. E eles gostam. E falam disso (porque na realidade não sabem escrever). E são felizes.
Deixemo-los serem idiotas. Ao menos, à falta de algo melhor, dá-nos um assunto para escrever.
segunda-feira, fevereiro 01, 2010
Ainda que imaginemos mundos (21)
A claridade nunca
verbaliza o perfume
ou desenha o sublime
enquanto a idade passa por mim.
Ainda assim
por debaixo da sombra
tento percorrer o rigor
mas acabo por preferir
o investimento na ilusão,
na vontade de uma outra coisa,
na vontade de ser eu, e é assim
que desligo da realidade.
Poderei algum dia chegar
de onde vim, perceber
para onde vou,
e porque sou?
Talvez uma ausência eterna
me impeça de perceber este lugar
mas sossego, porque um dia
a verdade permanecerá
no silêncio destas palavras
A claridade nunca
verbaliza o perfume
ou desenha o sublime
enquanto a idade passa por mim.
Ainda assim
por debaixo da sombra
tento percorrer o rigor
mas acabo por preferir
o investimento na ilusão,
na vontade de uma outra coisa,
na vontade de ser eu, e é assim
que desligo da realidade.
Poderei algum dia chegar
de onde vim, perceber
para onde vou,
e porque sou?
Talvez uma ausência eterna
me impeça de perceber este lugar
mas sossego, porque um dia
a verdade permanecerá
no silêncio destas palavras
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