quarta-feira, novembro 05, 2008

O pulsar ardente das mãos espancadas

Ainda te vejo ao canto da loja
por entre os lenhos húmidos
dos alvoreceres coimbrães
e apetece-me agora dizer-te no silêncio:
claro que os dias são breves
e que o mundo gira sempre
à mesma velocidade
claro que o tempo se demorou
no pulsar ardente das mãos espancadas
que trémulas aguardaram
as chuvas da velhice

Tudo se esgotou de uma forma indizível
tal como me disseste: para o ano já cá não
estarias de novo de braços abertos
à espera que a vida te levasse.
Afinal, desde sempre foste tu quem carregou

a vida às costas

Miguel Godinho

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