quarta-feira, novembro 12, 2008

Eras tu a virgem solene

Nos ventos negros da distância
o ajuste selvático da memória
e à parte da ilusão, o som da loucura


eras tu a virgem solene que apodreceu na recordação
ver-te ao longe é como ver-te ao perto
continuas arruinada numa esfera inerte
quase como naquele quarto quente
onde começámos corroídos logo à partida

no entender de quem julgava ver-nos nus
foi sempre assim meu amor, meu velho amor
mas o tempo cicatrizou-nos esse amor
ao menos ainda
consigo redigir sem borrar o teu nome
nesta folha branca e imaculada

Miguel Godinho

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