quarta-feira, novembro 28, 2007

[R] ar

Fico sempre na dúvida
quando publico (quero dizer, quando torno público)
algo que me vai na alma
não sei se por receio que me julguem
se por medo de R ar nu portuguez

Miguel Godinho

terça-feira, novembro 27, 2007

A distância

Só os fortes sobrevivem à melancolia
que lenta se instala, à retaliação do tempo
que passa sem se ver

eu não sou um desses

penetra-me novamente a alma
com a chama dos teus olhos e
revela-me a falha que nos desagregou
para que não tenha de curvar-me
diante dos dias que passaram
sem que pudesse olhar-te e rever-me
na demência das tuas [das nossas] ideias

Miguel Godinho

segunda-feira, novembro 26, 2007

sábado, novembro 24, 2007


Nos sonhos nunca conseguimos olhar-nos
sem que o desejo não nos percorra
rasga-me os olhos para que cegue
para que só veja negro no silêncio da noite

Miguel Godinho
Apagar a memória

Memória caos disforme
ruínas de histórias mortas
como pedradas no passado

para poderes apagá-lo

olhas em volta e
descobres-te contrariado
nesses momentos pretéritos

não são mais que conjecturas, dizes
não voltam a ser da mesma forma
não voltas a pertencer a esse caos

quem foste naquela reminiscência
com que direito te julgas agora
no futuro serás superior

memória caos disforme
retiras-te como se fosses senhor
de um tempo que querias ser só teu

para poderes apagá-lo

Miguel Godinho

sexta-feira, novembro 23, 2007

quinta-feira, novembro 22, 2007

As minhas ficções

À noite sou o som do vento
no silêncio da chuva
sempre que na calçada em lama
os teus passos imaginários
abraçam as minhas ficções

Miguel Godinho

terça-feira, novembro 20, 2007

A chuva

A chuva transporta-nos
clandestinamente
para os lugares antigos
enlameando-nos a memória

Miguel Godinho

segunda-feira, novembro 19, 2007

No seguimento do texto anterior

Os sons minimais
[ou o justo tributo aos ruídos e às vivências contemporâneos]

Os sons espremidos em sinopses nocturnais
qual visões acústicas espectrais, reverberadas na toxicidade
Densas sensações químicas na propagação do negrume
e rápidas aparições voltaicas que te penetram o intelecto,
espargidas em raios eléctricos

a curiosidade

faz-te navegar na imensidão de estímulos que lentos se instalam e
então declaras com um fechar de olhos o contentamento descoberto
arriscando extrair o sumo da iniciativa que te inteirou
da existência de cristais que revelam essas realidades ocultas

Miguel Godinho

quarta-feira, novembro 14, 2007

Os textos

Eu não sou poeta
eu não quero ser poeta
escrevo apenas textos
textos que retratam
a poesia das coisas
a poesia não está nos textos
está no olhar e nas coisas
nas mãos existe o olhar
no papel existem textos
textos que descobrem a poesia
textos que destapam a poesia
a poesia está no olhar e nas coisas
a poesia não está nos textos
eu não sou poeta
eu escrevo textos

Miguel Godinho
Conquistar
"é a consequência natural de um poder excessivo: é a mesma coisa que a criação e a procriação, quer dizer, a incorporação da sua própria imagem numa matéria estranha. É por isso que o homem superior tem que criar, quer dizer, imprimir sobre os outros a sua superioridade, seja enquanto professor seja também enquanto artista. Com efeito, o artista quer comunicar-se, e, na verdade, ao seu gosto: um artista para si próprio é uma contradição. Passa-se o mesmo com os filósofos: eles querem tornar o seu gosto dominante no mundo e é por isso que ensinam e é para isso que escrevem. Onde quer que esteja presente um poder excessivo, ele quer conquistar: a este impulso chama-se frequentemente amor, amor por aquilo sobre o qual se gostaria de se estender o instinto conquistador."
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, novembro 12, 2007

O real

Às vezes perdes-te
na percepção do tempo
e os canais da inteligência
violentam-te o entendimento
como se fosse razoável
esse caminho errante

é então que regressas
àquele olhar inocente
às paixões indizíveis
da loucura dos 18
esquecendo-te do guião
deste filme em que te meteste

às vezes perdes-te
nesse desejo de retorno
ao sofá da adolescência
como se pudesse
existir sensatez no facto de
termos de permanecer sempre
amarrados à brutalidade do real
ou lá o que quer que se chame
àquilo que nos obriga
a esquecer o interessante da vida


Miguel Godinho

sábado, novembro 10, 2007

As ruínas

Olho a nora em ruína e
penso nos milhares de milhas circulares
percorridas pelas mulas que
qual tractores pretéritos
acumulavam rodagens
sem carências lubrificantes
Olho a nora em ruína e penso
na ferrujem das engrenagens, no suor
das mãos antigas que tantas vezes inventaram
soluções para elevar as águas profundas
Olho a nora em ruína e vejo claramente
as ruínas da memória

Miguel Godinho

quinta-feira, novembro 08, 2007

Uma pausa para ir dar ao pedal...



AMSTERDAM
Novembro 2007