O Património Cultural Algarvio (artigo publicado no "Jornal do Algarve")
O Algarve é uma região que apresenta características culturais únicas relativamente ao restante panorama português, apesar destas estarem profundamente ameaçadas há já alguns anos. No que toca ao Património material e imaterial algarvio, a região está hoje profundamente injuriada, não só devido à incultura e ao desinteresse da população em geral face a um legado que, materialmente não apresenta a monumentalidade existente noutras regiões, mas também devido à incúria do poder técnico e político que muitas vezes actua favorecendo interesses imobiliários menos claros.
Se é certo que a nossa região não possui um Inventário artístico pormenorizado de todos os bens com interesse cultural e que por isso devem ser preservados, cuidados e estudados, também é certo que esse facto possibilitou e potenciou a destruição patrimonial em virtude da satisfação de um turismo voraz e completamente alheio às suas vertentes culturais.
Hoje em dia, começam finalmente a equacionar-se diferentes formas de orientação do turismo numa tentativa de promoção das potencialidades culturais da nossa região, como alternativa ao simples pacote sol/praia. Mas será que já não é tarde de mais? Não terão sido os erros cometidos excessivamente graves? Não estará o património algarvio demasiadamente corrompido e adulterado no seu legado cultural?
Penso que não, mas para tal terão de ser criadas ferramentas de protecção e de detecção dos campos prioritários em que devem ser tomadas medidas. Nesse sentido, foi criada há alguns anos pela Universidade do Algarve uma licenciatura em Património Cultural, na tentativa de lançar técnicos que possam intervir, divulgar, desenvolver acções dentro deste âmbito. Será importante agora que as portas sejam abertas por parte das diversas instituições (especialmente as públicas – principalmente as Câmaras Municipais, já que são estes os principais centros de decisão) uma vez que um grande número destes técnicos continua desempregado e à espera que estes empregos (que já deviam existir) sejam disponibilizados. È urgente dar resposta a esta vontade de defesa das riquezas da região, nas suas mais variadas formas: arquitectónica, paisagística, literária, musical, histórica, arqueológica, gastronómica, etc. Todas estas heranças poderão ser dinamizadas de forma a conseguir que a nossa região não perca de vez o carácter único que possui.
O património é de todos e deve ser defendido a fim de preservar a memória que também a todos pertence.
Miguel Godinho
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