segunda-feira, setembro 03, 2012

Da violência conjugal / Poemário orçamental [21]


Ela bem tentou explicar-lhe
o problema
de uma forma simples
e descontraída:
em qualquer país civilizado
se estivesse a ser julgada
por um crime passional, orçamental
ou qualquer coisa parecida,
o Estado podia achar
que queria fugir
e, por isso,
tentava impedi-la,
retirando-lhe o passaporte.

O passaporte, ao contrário
do que muita gente pensa,
é uma concessão
e não um direito.

O amor deles devia ter
funcionado numa lógica semelhante 
mas com uma pequena diferença:
devia ter sido, sim, uma entrega temporária, 
condicionada
a um determinado conjunto
de regras ou leis
que, por norma,
e como em qualquer relação civilizada,
podiam ter sido
revogáveis; o passaporte, 
no entanto,
era uma coisa que nunca 
ele lhe deveria ter confiscado
quando a atingiu
com dois tiros na loucura 
do amor

MG 2012

Sem comentários: