Olhas as mãos
e não vês apenas as rugas, a calosidade.
vês a vida, o ardor do carimbo arrebatado do tempo e
os cânticos das longas jornas de trabalho
no suor que te escorria a face
Sentes o cheiro a terra e a estrume
e [qual nódoas] regressam as pintas da cal
com que cobriste
os muros altos da quinta em ruína
Olhas as mãos e vês-te a ti, jovem
à espera de as tornares a olhar, velho
para que percebas que o tempo que corre
de um momento ao outro
só faz sentido agora,
ao olhares as mãos.
Miguel Godinho