A partir de agora, nova casa. Aqui:
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(F)utilidades
Espaço de poesia e terror mental
terça-feira, fevereiro 25, 2014
quarta-feira, outubro 30, 2013
O limite do número de poemas
Por mais que gostes de poesia, caso vivas num apartamento só poderás ler até três poemas por dia. No entanto, este limite pode ser aumentado para seis, mediante aprovação do poeta e/ou do delegado de saúde mental. Para tal, deverás requisitar uma autorização. O limite do número de poemas pode sempre ser inferior ao mencionado acima, consoante o valor do livro em questão.
Os mais sensíveis podem ler até seis poemas, podendo tal número ser excedido se a dimensão psicológica o permitir e desde que as condições psíquicas estejam asseguradas.
Sempre que sejam respeitadas as condições de salubridade e tranquilidade de uma determinada biblioteca, podem ser alojados, por cada apartamento, tanto nas zonas urbanas como nas rurais, até três poemas ou quatro textos em prosa poética, não podendo no total ser excedido o número de quatro poesias.
Um dos grandes problemas que afecta os poemas e as pessoas que os lêem é o barulho. Se o poema for deixado sozinho durante longos períodos de tempo ou se não for lido suficientemente bem, é possível que vá adquirir maus hábitos comportamentais, como um ladrar compulsivo. Enquanto leitor, é da tua responsabilidade garantir o bem-estar do poema e não interferir no bem-estar dos outros leitores, quer vivas num apartamento ou mesmo numa quinta.
Embora a maioria dos leitores não seja confrontado com este problema, pois o poema lê-se e sente-se no momento, quando está próximo do leitor ele não exibe tal comportamento, sendo a situação de ruído constante um sinal de desequilíbrio do poema e podendo este levar os leitores à beira de um ataque de nervos.
Para que saibas, qualquer leitor incomodado nunca poderá contactar o poeta. Se o pudesse fazer, este iria dizer-lhe para ter juízo, visto que o poema nunca pode cessar o ruído. Caso tentes fazê-lo, este pode aplicar-te uma coima. As coimas começam nos 500 euros.
Resumindo:
Agora que já sabes o que diz a lei, procura agir de maneira responsável, evitando dar motivo para que se verifiquem reclamações. Não te esqueças: os poemas têm direitos e os leitores têm deveres e responsabilidades.
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mg 2013
Os mais sensíveis podem ler até seis poemas, podendo tal número ser excedido se a dimensão psicológica o permitir e desde que as condições psíquicas estejam asseguradas.
Sempre que sejam respeitadas as condições de salubridade e tranquilidade de uma determinada biblioteca, podem ser alojados, por cada apartamento, tanto nas zonas urbanas como nas rurais, até três poemas ou quatro textos em prosa poética, não podendo no total ser excedido o número de quatro poesias.
Um dos grandes problemas que afecta os poemas e as pessoas que os lêem é o barulho. Se o poema for deixado sozinho durante longos períodos de tempo ou se não for lido suficientemente bem, é possível que vá adquirir maus hábitos comportamentais, como um ladrar compulsivo. Enquanto leitor, é da tua responsabilidade garantir o bem-estar do poema e não interferir no bem-estar dos outros leitores, quer vivas num apartamento ou mesmo numa quinta.
Embora a maioria dos leitores não seja confrontado com este problema, pois o poema lê-se e sente-se no momento, quando está próximo do leitor ele não exibe tal comportamento, sendo a situação de ruído constante um sinal de desequilíbrio do poema e podendo este levar os leitores à beira de um ataque de nervos.
Para que saibas, qualquer leitor incomodado nunca poderá contactar o poeta. Se o pudesse fazer, este iria dizer-lhe para ter juízo, visto que o poema nunca pode cessar o ruído. Caso tentes fazê-lo, este pode aplicar-te uma coima. As coimas começam nos 500 euros.
Resumindo:
Agora que já sabes o que diz a lei, procura agir de maneira responsável, evitando dar motivo para que se verifiquem reclamações. Não te esqueças: os poemas têm direitos e os leitores têm deveres e responsabilidades.
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mg 2013
sexta-feira, outubro 04, 2013
ninguém está escondido dentro de mim
e quantas pessoas trago eu dentro de mim, quantos amigos, quanto
amor, muito amor, ninguém está escondido dentro de mim, ninguém está oculto, ninguém
vale pouco, toda a gente vale uma fortuna, estou milionário de pessoas, o
discurso de gratidão não tem fim, é complexo demais para ser traduzido em palavras, sinto-me apinhado de bons sujeitos, repleto de boas famílias, levarei
muita gente comigo quando tudo isto terminar, muitas memórias, muitas mãos que
me agarraram e que não me deixaram cair, que não permitiram que caísse para dentro da melancolia
do mundo, para dentro da melancolia do eu, ainda que muitas vezes me sinta sozinho, ainda que nunca exista da forma
que gostaria de existir, e será que existo mesmo, será que existo, será que me perdoam,
será que se incomodam por achar que poucas certezas tenho para além desta, que
nada sei, eu que às vezes julgo saber tudo, eu que tantas vezes até queria ser
outro, eu que às vezes preciso tanto de ser visto, eu que nunca quis
ser óbvio, eu que quero tanto, mas que no fundo preciso de tão pouco
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mg 2013
quinta-feira, outubro 03, 2013
xixi, caminha
ora aqui fica
mais um poema do zé joão:
«verdade seja dita, porra.
isto a vida é mesmo assim.
um dia acordamos, criamos um filho,
outro, outro, e depois mais um.
damos por nós cheios de cabelo branco,
a barriga inchou, a coisa já não levanta.
e pronto, a seguir
xixi, caminha.»
terça-feira, outubro 01, 2013
essas gravatas não vos acrescentam valor
um dia serás capaz de borrar o plano traçado, de inverter o rumo da tua vida e dizer que o mundo não
deve ser aquilo que tu não queres que o mundo seja, serás capaz de assumir que a brancura
e as pessoas brancas não existem, que o conforto em que vives é ilusório, que
tu nunca estiveste verdadeiramente confortável, bem sentado ou raio que te
parta, porque de sofás desfundados está o teu mundo cheio, de candura, dessa
gente bem lavada e asseadinha, gente que gosta muito de espreitar para dentro
de si própria e só sentir o cheiro a rosas quando o que lá existe é apenas
lixo, e então talvez te sintas na disposição de dizer: pronto, é hoje que vou
ser audaz, é hoje que vou ser aquilo que me apetece ser, já chega de submissão,
de mentira - e quantas vezes não há mentira por detrás das tuas ilusões, o
livro da tua vida não se pode escrever com palavras ininteligíveis e personagens
em quem não confias: basta que tu não és mais capaz de viver assim, rodeado de
todas essas coisas ocas e pessoas óbvias, tu queres mais é que se dane a
perfeição, tu já estás farto dessa gente que só sabe é ver-se ao espelho e
besuntar-se de brilhantina e vamos ver se não te levantas um dia azedo e com a
coragem suficiente para confrontá-los com a verdade: vocês não valem nada, nem
para lavar o chão prestam, essas gravatas não vos acrescentam qualquer valor
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mg 2013
segunda-feira, setembro 30, 2013
uma mãe com ar de casa
uma mãe com ar de casa, um edifício de habitação que lentamente
se vai arruinando e tão depressa se transformará em escombros; o que nos conforta
é a perfeita consciência de que haverá sempre uma beleza fértil, um legado, uma
paisagem afectiva que se produz, nos pormenores, nos pequenos gestos, a atenção
que ela nos foi prestando durante anos, a singularidade sentimental da herança que
se preocupou em construir, a magia edificante que sempre brotará das suas mãos,
da sua alma, dessa coisa que em si produzia amor, o brilho que emana da sua arquitectura
emocional; e não há palavras capazes de explicar, tudo em si é representativo
daquilo que nos dá, que nos deu, do que ela é, do que ela foi, do que sempre
será; e pensamos muito no que aconteceria se de repente um infortúnio
qualquer no-la roubasse, sabendo que à medida que vamos crescendo isso virá a acontecer; e porque ela nos faz muita falta, e toda a gente a quer muito, ninguém
sabe, ninguém está nunca preparado, ninguém consegue sequer imaginar a sua ausência, como se ela fosse uma espécie de campo magnético, um valor central, um incêndio, as
coisas mais antigas de que nos lembramos têm todas a sua marca, ela está lá
sempre, o seu sorriso, os seus olhos, a sua luz, e não nos sai da cabeça a
hipótese da sua extinção, o simples reconhecimento de que ela findará, de que ela terminará - tudo terminará, quando menos se espera já se acabou
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mg 2013
sexta-feira, setembro 27, 2013
desta vez o raio que os parta
dizia-me hoje o zé joão, mais ou menos assim, na sua última acção de campanha pela abstenção: «o território dos políticos é lixado. ou isso ou as
pessoas são estúpidas. de certeza que toda a gente vai repetir a mesma asneira:
acreditam em tudo aquilo que lhes prometem, por amor de deus, aceitar o embuste…
eu, nem sequer vou lá pôr a cruz e depois quero ver como é. a merda agarrada
aos sapatos, isso limpa-se, agora pôr lá um bandalho quatro anos que promete mundos
e fundos... eu cá vou votar bem, mas vou votar bem mesmo: vou votar no raio que
os parta a todos. esta vai ser a minha forma de continuar a ter forças, de me manter
vivo, e são, e capaz de me olhar ao espelho e ver um sentido nisto tudo. acreditem
que sim. cada vez mais sou incapaz de aguentar a intrujice, foram desleais para
mim, para todos, às vezes até parece que fomos ludibriados por crueldade, ou
por prazer. aqueles filhos da puta. todos. precisávamos de tão pouco e tudo deitámos
a perder autorizando aqueles pulhas a agarrar o poder. desta vez não me enganam. desta vez, o raio que os parta»
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mg 2013
quinta-feira, setembro 26, 2013
perder o chão dá-nos a certeza
confirmo-te que sim,
que continuaremos sempre a fazer coisas absolutamente erradas, coisas que poderão vir a correr mal, até porque se correrem mal é porque nunca poderiam ter corrido bem,
podemos sempre julgar que aprendemos com isso, quando na verdade nunca
aprendemos nada e voltamos sempre a repetir tudo uma e outra vez: as mesmas
asneiras, os disparates de sempre; seremos sempre jovens inconscientes e
instáveis, felizes na imprudência e no descuido, e é tão bom precipitarmo-nos
de uma escarpa, como se fossemos mesmo a tombar, sentirmos aquele frio na
barriga de quase perdermos o chão, porque sentir que se está mesmo a perder o
chão dá-nos a certeza de que a sorte não nos pertence, que não somos de modo
algum senhores do nosso destino; e tudo faremos para não vivermos só de dias
óbvios e calculáveis, teremos filhos teimosos que darão continuidade às nossas
vidas de indefinição, e que nos trarão com certeza muitas dores de cabeça,
partirão coisas e serão muito rebeldes, porque a rebeldia é sinónimo de
liberdade; e seremos felizes na indeterminação, porque de indeterminação é feita a
vida, de imprevisibilidade, de encostas abruptas, de dúvidas, do resultado dos descuidos e dos desacertos, se não que interesse teria o mundo se nos joelhos não
transportássemos todos os rasgões das nossas quedas
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mg 2013
quarta-feira, setembro 18, 2013
a verdade que nos vendem
sempre tive um prazer enorme em expor o engano que se esconde por trás de uma grande certeza e a verdade é que nunca quis ser um homem de fato e gravata, um desses senhores graves, cansados do trabalho, cheios de soluções para tudo, com uma vontade imensa de mandar no mundo. sempre vi por detrás disso uma frustração, o descontentamento de filhos que toda a vida ansiaram por um pouco de atenção, por um simples «gosto muito de ti», uma mulher que nunca ouviu nem ouvirá um “és tudo para mim”. sempre gostei dos dias de chuva no verão, mas agora, cada vez mais, parece que a única coisa que me interessa é a clandestinidade, insurgir-me perante a verdade que nos querem vender a toda a hora e sonho muito com o dia em que, de espada em riste, feito guerreiro medieval, obrigarei pessoas que não querem saber de ninguém a trabalhar para nós, da mesma forma que agora trabalhamos para eles, porque se há coisas que odeio são conjecturas, a economia dos números, os ajustamentos e as necessidades de requalificação: o que é preciso é flexibilizar-lhes a alma, ensinar-lhes que só o amor e a felicidade é que contam, e que há um caminho alternativo à democracia da subordinação
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mg 2013
terça-feira, setembro 17, 2013
há qualquer coisa
já sabias que mais cedo ou mais
tarde haveria de escrever um texto meloso como este; porque constantemente
fazes questão de me lembrar que todos os dias devemos empenhar-nos na
construção de um mundo só nosso - não de uma casa, não de uma conta bancária, não
de uma mentira, mas de um mundo - um mundo inteiro cheio de coisas imensas,
cheio de amor, cheio de tudo aquilo que conseguirmos meter lá dentro, cheio de
vida; porque daqui a uns anos vamos com certeza ser capazes de nos comover com
esta história; porque esta é a história que vamos querer contar aos nossos
filhos (e que vamos querer que eles se encarreguem depois de contar às gerações
futuras), esta é a história que nos emociona sempre que pensamos na grande
probabilidade da mesma se vir a realizar, e nos faz chorar – mesmo quando não
há nada para chorar – ao imaginarmos a remota hipótese dela não se vir a
concretizar; porque a verdade é que todos os dias devemos ser capazes de chorar
por tudo e por nada – saber chorar é uma qualidade, tentarmos ser felizes
porque o que importa é sermos felizes – saber ser feliz também dá trabalho – e
aceitarmos o que a vida nos dá e desejarmos sempre mais e mais felicidade,
agarrarmos a vida pela mão, deixarmo-nos conduzir por ela, não permitimos que
nada nos escape: esta é a nossa vida e não há-de haver outra; um dia saberemos
reconhecer a importância de tudo isto quando olharmos para trás e nos revirmos:
se ainda agora podemos constatar que o amor não encolheu, é porque há qualquer
coisa de mágico e de imortal nesta nossa simples pretensão, há qualquer coisa
de mágico em nós
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mg 2013
quinta-feira, setembro 12, 2013
os dias lácteos
já foram claros, os dias, lácteos,
irreflectidos, já houve um tempo em que era fácil compreender a luminosidade
das horas, em que todos os minutos podiam trazer coisas novas. tudo isso
naturalmente terminou: a ideia de que nunca as rotinas haveriam de ter lugar, de
que nada se extinguiria, que o primeiro amor seria para a vida, mas porque é
que o primeiro amor nunca é para a vida, como é que as certezas se tornaram tão
frágeis, como é que a realidade passou a reflectir apenas a ausência, a falta
de qualquer coisa – há sempre qualquer coisa que falta – onde é que anda agora
aquela claridade que em tempos existiu, porque é que agora constantemente
sentimos que já não somos os mesmos (quando nós nunca fomos sempre os mesmos),
que nós já não somos aquela pessoa (se nós nunca fomos sempre aquela pessoa),
como é que o silêncio agora está tão presente, o aflitivo ruído do silêncio, a
insuficiência dos afectos, as frases sempre entre-cortadas, as meias-verdades
que inundam o vazio dos espaços, a incapacidade em gerir as palavras, como é
que se gere as palavras?, a certeza de que tudo tende para um fim, a
consciência de que nada regressa ao mesmo lugar, que o amor é um conceito
propenso ao desastre, que tudo há-de ser efémero, que a vida é uma transição, e
eu sei lá o que é a vida: o que é mesmo a vida?, o que é mesmo a vida que eu
cada vez percebo menos e nunca ninguém me chegou realmente a explicar?
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mg 2013
quarta-feira, setembro 04, 2013
está tudo igual
está tudo igual, sabemos perfeitamente que o futuro ainda não começou nem começará brevemente, que o amanhã custará a chegar, aquele dia em que seremos felizes, centralmente felizes, diversamente felizes, imensamente felizes; tudo persiste nestes minutos que passam, o eixo das horas rola justamente sobre nós, em cima de nós - está tudo igual - nada se alterou, tudo nos oprime, esta realidade densa, indisciplinada, a inevitabilidade do mundo, as coisas modernas que só servem para nos iludir, já não há questões fundamentais, tudo é secundário, os procedimentos urbanos, o poder económico a mandar em ti: faz isto, compra isto, olha para isto, desliga-te daquilo, vai para aqui, vai para ali; a desconsideração pela história e pela cultura, a irrelevância – tudo é irrelevante, as verdades que conhecíamos, os nossos – quem são os nossos agora?, tudo partiu ou está para partir: somos voláteis e não dialogamos mais, isso não traz felicidade, isso não dá dinheiro, isso não conta mais, o que importa é descontarmos, darmos o desconto, ignorarmos e sermos ignorantes, ignorarmos e sermos ignorantes
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mg 2013
segunda-feira, setembro 02, 2013
artigo 53
Quer-me parecer que o artigo 53 da Constituição está sob fogo, esse malandro, é a razão de todos os males. Diz o mesmo que "é garantida aos trabalhadores a segurança no emprego, sendo proibidos os despedimentos sem justa causa ou por motivos políticos ou ideológicos". Um corte orçamental tem de facto força suficiente para acabar com a segurança no emprego porque, se não há dinheiro para pagar salários, não pode haver segurança no emprego. Contudo, também pode ser considerado um motivo que advém de uma decisão política porque, enquanto acto político, o corte orçamental é decidido por uma administração – o Governo, mas com base em indicações fornecidas pelos serviços. Como tal, permitindo que os cortes de pessoal na função pública se processem por razões de racionalidade económica, deixa que te vejam como inconveniente numa câmara ou num instituto, deixa; deixa que te vejam como incómodo num departamento, deixa. Se numa empresa tens de alinhar na política da empresa e não há problema de maior, porque a política da empresa é a política do lucro (à partida, ninguém que dê lucro à empresa será dispensado, independentemente da sua cor política, das suas motivações ideológicas; até porque numa empresa saudável, as questões colocadas pelos funcionários são, no mínimo, avaliadas), no Estado, qualquer coisa que não seja a política de quem manda, é uma má política. E uma má política é sempre uma má política. Imaginem-nos a todos bem alinhadinhos nas boas políticas de quem manda: que bom que seria, que bem que funcionaria tudo isto
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mg 2013
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mg 2013
quinta-feira, agosto 29, 2013
nunca nada alguma vez
o ideal era um dia sermos capazes de inverter o processo: começarmos primeiro pela memória amarga, percorrermos então o desgosto amoroso, a escoriação, depois, aí sim: apaixonarmo-nos perdidamente, reservarmos aquela luz que nos cegou num primeiro instante para o último momento e de repente virarmos a cara e nem sequer percebermos que nunca nada alguma vez nos aconteceu - nada: desconhecermo-nos absoluta e completamente
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mg 2013
quarta-feira, agosto 28, 2013
um dedo médio
e talvez em descobrindo aquilo que te põe realmente radiante, te devas deixar consumir por isso, deixa que isso te mate, deixa-te morrer assim, bem devagar, devagarinho, e com certeza morrerás mais feliz se esticares um dedo médio bem esticadinho, com a palma da mão encolhida e virada para cima, sempre que sintas que te querem mal, que te desejam mal, que sintas que te estão a menosprezar
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mg 2013
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mg 2013
quarta-feira, agosto 21, 2013
o coveiro está à coca
Luiz Pacheco // GEORGE, João Pedro (2011) - "Puta que os pariu! A biografia de Luis Pacheco", Tinta da China, Lisboa.
isto que eu tenho agora
então não há por aí alguém que me explique porque é que a vida nos troca sempre as voltas, é perita em derrubar-nos as convicções, pois que eu nunca me imaginei pai de filhos, uma pessoa com responsabilidades, deveres de gente adulta – e já serei eu adulto? é que parece que cada vez mais a veia paternal toma conta de mim, se apodera das minhas determinações, são tantas as saudades do puto logo depois que dele me separo que a verdade é que há uma franca vontade de lhe dar uma irmã, de me oferecer muitas mais dores de cabeças destas, eu quero é fazer-me velho rodeado disto que tenho agora que é muito bom e está bem assim
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mg 2013
terça-feira, agosto 13, 2013
quinta-feira, agosto 08, 2013
todos gostamos muito
ainda assim, parece-me que serão sempre muitos os interessados em prosseguir com a sua banal vidinha: falando mal de toda a gente desde que se levantam até que se deitam, quando a sua própria vida não é mais do que uma fiel reprodução da vida dos outros, lixar tudo e todos, porque a desgraça alheia é a sua mais sincera razão de satisfação; serão sempre muitos os que continuam a preferir passar horas, dias, anos, vidas inteiras enfiados em gabinetes recônditos, envoltos em papéis e mais papéis, afundados em toneladas de conteúdos irrelevantes, sem nunca terem tempo nem vontade nem disposição para a família, para depois um dia perceberem que nunca foram sequer capazes de olhar os filhos nos olhos ou perceber a razão de estes nunca terem conseguido relacionar-se emocionalmente com eles; e, segundo parece, todos gostamos muito de andar a chorar o estado do mundo sem que nunca tenhamos tentado fazer nada por ele, todos gostamos muito de andar a lamentar a situação em que nos encontramos sem que nunca tenhamos tentado fazer nada por nós
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mg 2013
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mg 2013
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