uma mãe com ar de casa, um edifício de habitação que lentamente
se vai arruinando e tão depressa se transformará em escombros; o que nos conforta
é a perfeita consciência de que haverá sempre uma beleza fértil, um legado, uma
paisagem afectiva que se produz, nos pormenores, nos pequenos gestos, a atenção
que ela nos foi prestando durante anos, a singularidade sentimental da herança que
se preocupou em construir, a magia edificante que sempre brotará das suas mãos,
da sua alma, dessa coisa que em si produzia amor, o brilho que emana da sua arquitectura
emocional; e não há palavras capazes de explicar, tudo em si é representativo
daquilo que nos dá, que nos deu, do que ela é, do que ela foi, do que sempre
será; e pensamos muito no que aconteceria se de repente um infortúnio
qualquer no-la roubasse, sabendo que à medida que vamos crescendo isso virá a acontecer; e porque ela nos faz muita falta, e toda a gente a quer muito, ninguém
sabe, ninguém está nunca preparado, ninguém consegue sequer imaginar a sua ausência, como se ela fosse uma espécie de campo magnético, um valor central, um incêndio, as
coisas mais antigas de que nos lembramos têm todas a sua marca, ela está lá
sempre, o seu sorriso, os seus olhos, a sua luz, e não nos sai da cabeça a
hipótese da sua extinção, o simples reconhecimento de que ela findará, de que ela terminará - tudo terminará, quando menos se espera já se acabou
.
mg 2013
1 comentário:
Bom dia
Gostei muito deste seu poema.
Estou a levá-lo comigo. Posso?
Vê-lo-á um dia destes no meu blog.
Se autorizar, claro.
:)
Olinda Teixeira
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