segunda-feira, agosto 27, 2012

Poemário orçamental [20]


Dizes-me que não sabes
o que se passa com o mundo
connosco
nós somos a metáfora do mundo
um lábio contra o outro
numa incessante contenda
pela posse da matéria concreta,
do corpo metafísico.
Não há dinheiro que compre
o amor
nem amor que devolva
a verdade
.
MG 2012

segunda-feira, agosto 20, 2012

Um poema para Raymond Carver / Poemário orçamental [19]


Os melhores vocábulos
os mais rigorosos
não se podem comprar
vender ou negociar;
a dificuldade em ajustar
uma vírgula
que nos permita respirar
por entre a turbulência
das palavras, a articulação do ar.
Há que ser hábil
na complexidade do dizer
expor sem querer ludibriar
as verdades amplas do olhar

Para Raymond Carver

MG 2012

Poemário orçamental [18]


Abandonar os poemas
ditos às prestações
e regularizar de vez
as dívidas afectivas
contraídas em momentos
de desorientação emocional.
De ora em diante,
apenas palavras genuínas
assanhadas de paixão
e a verdade, sincera e descontraída
mais tudo aquilo que possa
amortizar os calotes de amor
.
MG 2012

Poemário orçamental [17]


A poesia
é um investimento
de alto risco:
há sempre
a possibilidade
de perdermos
o chão
.
MG 2012

Poemário orçamental [16]


Uma verdadeira negociante de emoções
um dia disseste-me que gostavas
do hipnotismo da poesia
de traficar tumultos do coração
de aceitar propostas ousadas
ainda hoje era capaz de me endividar
só para que me resgatasses
da crise dos dias
.
MG 2012