sábado, dezembro 15, 2012

Armas//poemas

Todas as armas
fossem poemas
e, aí sim
seríamos livres
para atingir
quem quiséssemos
na cabeça ou
no coração


.


MG 2012

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Poemas mimados

Há poemas
tão mimados
que sempre que
lhes impomos limites
regras e horários
fazem birra
e não nos saem
mesmo
da cabeça
.
MG 2012

quinta-feira, dezembro 13, 2012

a cair

uma ideia
recorrente
.
sentirmo-nos
a cair
do mundo
abaixo
.
MG 2012

os dias acabam

os dias
acabam sempre
por rasgar-nos
a farda
.
MG 2012

Poemas//incendios

Há poemas
que são
incendios
.
MG 2012

Numa situação

Numa situação 
de desespero 
a tudo 
se recorre,
principalmente 
à poesia
.
MG 2012

Poemas//minas

Há poemas
que estão minados
sem aviso
a verdade 
das palavras
rebenta-nos 
em cima
.
MG 2012

sábado, dezembro 08, 2012

[Um poema para o meu amor]


Há um verdadeiro potencial
destrutivo
em tudo aquilo que escrevemos,
dizemos, vertemos
pela boca
um discurso
capaz de desmantelar
a assertividade do nosso amor
a força desta coisa enorme
e a verdade é que
é quase impossível destruí-lo
mas uma simples distracção
é uma armadilha
um mero descuido tem a força
de confundir a utopia
das nossas certezas
e da pior forma possível
nos convencemos
que não há doutrinas
ultra-revolucionárias
livros capazes de nos ensinar
certificados que comprovem
a ciência da unificação
contemos apenas
com o programa rigoroso
do nosso olhar
e deixemos-nos andar
assim
porque como se diz
por aí
enquanto isto dura
é doçura
.
MG 2012

sábado, dezembro 01, 2012

a mecânica das coisas

a verdade é que
resvalamos 
mais facilmente 
para o sonho
sempre que 
mergulhamos 
fundo na vida
e torna-se fácil
falar da solidão
recordarmos o início
de tudo, a mecânica
das coisas
em dias nebulosos
daqueles em que
nada de importante
acontece


.


MG 2012

terça-feira, novembro 20, 2012

um fogo selvagem

o amor é um fogo selvagem
primeiro custa a atear
depois não dás conta dele
.
MG 2012

quinta-feira, novembro 15, 2012

de olhos bem abertos

um dia 
a nossa voz
inundará de verdade
o mundo 
a realidade
das casas erguidas
com gritos de amor
não desanimemos
que nada se vai 
assim sem mais 
nós não ardemos 
só porque nos querem
de olhos bem fechados
é imensamente forte
aquilo que construímos
e nada extingue
o calor das palavras
a necessária respiração 
de um texto como este
as chamas são 
o nosso refúgio
o fogo das nossas conquistas
a queimar
uma qualquer 
folha de papel
um dia o medo
será a nossa força
um falcão
de asas ao vento
voando livre
vendo o mundo 
de cima
.
MG 2012

quinta-feira, novembro 01, 2012

1 de novembro

Em Faro morava em frente ao cemitério. Via-o de cima, de um quarto andar. Tinha uma vizinha que quando o sol se punha não saía de casa. Entrava no prédio pela porta de trás. A minha mãe costumava dizer-lhe - ainda diz - que não temos de ter medo de quem já partiu. Quem por cá ainda anda é muito mais perigoso. Lembrei-me disso porque hoje é dia de recordar os nossos que já partiram, nós que havemos de partir. É tempo disso tudo, sem medos. É tempo de pensarmos que um dia estaremos todos juntos outra vez, num lugar qualquer, num tempo que não existe. Como sempre foi o tempo, antes de cá virmos, e depois, quando partirmos: uma coisa que não existe.

é tempo sei lá já do quê

às vezes apetece-me encher 
isto de linques
e pensamentos apolíticos 
mas que raio
disso estamos todos fartos. 
A partir de agora só bombas,
querosene, gasolina,
verilaites verbais
e coqueteiles holofotes.
Raios ta partam
se o mundo está feio
e eu não quero torná-lo mais
feio do que ele já é
quero contribuir
para uma limpeza necessária
um feicelift
as palavras por si só
estão a mais
é preciso mais acção,
pluralidade, mais revoltas
partidárias
é tempo de nos amarmos
outra vez
é tempo sei lá
já do quê
.
MG 2012

segunda-feira, outubro 22, 2012

A força dos ventos


e como custa
a selvajaria dos dias
o desrespeito e a ignorância
a poesia renascentista
em tempos de desilusão
a força dos ventos favoráveis
na ilusão de alguns
quando a borrasca
é mais que evidente

e como custa
ser suplente num jogo
para o qual fomos
convocados à força
a potência da verdade
as mãos atadas
no corpo caído
enquanto tudo
arde
.
MG 2012

agora que penso nisso


agora que penso nisso
a sério
se calhar não é assim
tão mau
é por uma causa
maior
um portugal moderno
ao jeito
sul-europeu
.
MG 2012

Poemário orçamental [24]


Este podia muito bem ter sido
mais um poema de amor
escrito a pensar em ti

não tivesse sido ele redigido
sob um clima de austeridade
e as palavras fossem já
tão caras ou difíceis de obter

achei mais prudente não avançar
tamanho foi o receio de não ser capaz
de honrar esse outrora
tão mais fácil compromisso
.
MG 2012

quarta-feira, setembro 19, 2012

Das equivalências

Um raio 
que os parta
é equivalente
(tem o mesmo 
número de créditos)
que um puta 
que os pariu
.
MG 2012

Poemário orçamental [23]


A poesia:
um paraíso fiscal
uma região autónoma
livre de tributação
.
MG 2012

Poemário orçamental [22]


um poema que pudesse
ser abatido
em sede de irs
.
MG 2012

se calhar não é assim tão mau


agora que penso nisso
a sério
se calhar não é assim
tão mau
é por uma causa
maior
um portugal moderno
ao jeito
sul-europeu
.
MG 2012

terça-feira, setembro 04, 2012

Das touradas


Do que neste preciso
momento sinto a falta
para animar a tarde
deste escritório submisso
é de uma touradazita
um cavalo em fúria
a entrar porta adentro
alguém de casaco pimpão
atestado de lantejoulas
bandarilha em riste
gritando
puta que pariu
àquele que inventou
o trabalho
.
MG 2012

segunda-feira, setembro 03, 2012

Da violência conjugal / Poemário orçamental [21]


Ela bem tentou explicar-lhe
o problema
de uma forma simples
e descontraída:
em qualquer país civilizado
se estivesse a ser julgada
por um crime passional, orçamental
ou qualquer coisa parecida,
o Estado podia achar
que queria fugir
e, por isso,
tentava impedi-la,
retirando-lhe o passaporte.

O passaporte, ao contrário
do que muita gente pensa,
é uma concessão
e não um direito.

O amor deles devia ter
funcionado numa lógica semelhante 
mas com uma pequena diferença:
devia ter sido, sim, uma entrega temporária, 
condicionada
a um determinado conjunto
de regras ou leis
que, por norma,
e como em qualquer relação civilizada,
podiam ter sido
revogáveis; o passaporte, 
no entanto,
era uma coisa que nunca 
ele lhe deveria ter confiscado
quando a atingiu
com dois tiros na loucura 
do amor

MG 2012

segunda-feira, agosto 27, 2012

Poemário orçamental [20]


Dizes-me que não sabes
o que se passa com o mundo
connosco
nós somos a metáfora do mundo
um lábio contra o outro
numa incessante contenda
pela posse da matéria concreta,
do corpo metafísico.
Não há dinheiro que compre
o amor
nem amor que devolva
a verdade
.
MG 2012

segunda-feira, agosto 20, 2012

Um poema para Raymond Carver / Poemário orçamental [19]


Os melhores vocábulos
os mais rigorosos
não se podem comprar
vender ou negociar;
a dificuldade em ajustar
uma vírgula
que nos permita respirar
por entre a turbulência
das palavras, a articulação do ar.
Há que ser hábil
na complexidade do dizer
expor sem querer ludibriar
as verdades amplas do olhar

Para Raymond Carver

MG 2012

Poemário orçamental [18]


Abandonar os poemas
ditos às prestações
e regularizar de vez
as dívidas afectivas
contraídas em momentos
de desorientação emocional.
De ora em diante,
apenas palavras genuínas
assanhadas de paixão
e a verdade, sincera e descontraída
mais tudo aquilo que possa
amortizar os calotes de amor
.
MG 2012

Poemário orçamental [17]


A poesia
é um investimento
de alto risco:
há sempre
a possibilidade
de perdermos
o chão
.
MG 2012

Poemário orçamental [16]


Uma verdadeira negociante de emoções
um dia disseste-me que gostavas
do hipnotismo da poesia
de traficar tumultos do coração
de aceitar propostas ousadas
ainda hoje era capaz de me endividar
só para que me resgatasses
da crise dos dias
.
MG 2012

segunda-feira, julho 02, 2012

Boris Chimp 504 vs Miguel Godinho

Performance audiovisual, som e imagem do hiper-espaço de Boris + escrita e declamação de poemas marotos do Miguel Godinho.
(apresentação do livro "Poemário Prostibular")

Sabado 23/06/2012 - Faro / Artistas


O perigo dos coriscos


Dentro da cabeça há coisas
que, de uma forma muito delicada,
nos recomendam prudência,
entidades muito antigas que nos
advertem para o perigo dos coriscos,
para o problema das intermitências
entre a memória e o dizer,
realidades que não se podem referir 
numa palavra ou num texto
mas ainda assim assumimos a questão
avançamos rumo ao precipício
pegamos na caneta e no papel
e arriscamos a combustão
.
MG 2012

Poemário orçamental [15]


Um poeta-economista:
sabia perfeitamente
que o poema
tal como o dinheiro
devia ser um meio de troca
de difícil falsificação
utilizado para acumular valores
facilmente fraccionado
e constantemente
redistribuído
.
MG 2012

Poemário orçamental [14]


Largar-te o poema
na boca
deixá-lo operar
até que a beleza
destruidora 
das palavras
lhe revele
o seu valor real
.
MG 2012

sexta-feira, junho 29, 2012

Poesia orçamental [13]

Uma poesia adulterada
produzida à margem
contrafeita
sai sempre mais barata
não paga impostos
e é mais fácil de vender
.
MG 2012

quinta-feira, junho 28, 2012

O perigo dos coriscos


Dentro da cabeça há coisas
que, de uma forma muito delicada,
nos recomendam prudência,
entidades muito antigas que nos 

advertem para o perigo dos coriscos, 
para o problema das intermitências 
entre a memória e o dizer, 
realidades que não se podem 
referir numa palavra ou num texto
mas ainda assim assumimos a questão
avançamos rumo ao precipício
pegamos na caneta e no papel
e arriscamos a combustão
.
MG 2012


Poemário orçamental [12]


Eras perita a vender palavras
abaixo do preço de mercado,
oferecias poesias
sem calcular as consequências 
os estragos, o alcance
a dimensão, o seu custo real
.
MG 201

terça-feira, junho 26, 2012

Poemário orçamental [11]


A verdadeira aliteração
dos dias de hoje
é ser capaz de
dizer sem medo
que o dinheiro
não dura já do modo
que durava antigamente
que os vendedores
de sonhos estão doentes
dir-se-ía enfermos
criaturas domesticadas
sem estratégia extraordinária
para impedir
a ausência de amor
.
MG 2012

sexta-feira, junho 22, 2012

Poemário orçamental [10]


O dever
de retracção nos gastos
constrange os poetas
da novíssima geração
recomenda-lhes
contenção nas palavras,
uma poesia mais austera
.
MG 2012

Poemário orçamental [9]


Um poema que só enunciasse derrapagens
incumprimentos das metas fixadas
(aliás, um poema tem metas?)
que fosse ele próprio frouxo
mais frouxo do que o previsto
a causa da recessão
 que não parasse de aumentar
a dívida das contas gerais
que persistisse na instabilidade
e que fosse tão inconstante quanto possível
que obrigasse permanentemente
a ajustamentos estruturais:
seria esse o poema mais moderno de todos
busca incessante de todo e qualquer
poeta da contemporaneidade
.
MG 2012

quinta-feira, junho 21, 2012

Poemário orçamental [8]


Um país que recusasse
os setenta e seis milhões de poemas
que constituem um determinado
plano de ajuda financeira
indispensável ao equilíbrio 
das nossas contas públicas
.
MG 2012

quarta-feira, junho 20, 2012

Poemário orçamental [7]



Um plano de ajuda financeira
que ditasse o equilíbrio
das contas públicas:
um país
que nos oferecesse
setenta e seis mil
milhões de poemas

.
MG 2012

terça-feira, junho 12, 2012

Poemário orçamental [6]


E apesar do clima
de incerteza
ainda fomos a tempo 
de inverter as perdas, 
de garantir o retorno 
do investimento:
fechámos a sessão
do dia em alta,
capitalizámos
o nosso amor
.
MG 2012

quinta-feira, junho 07, 2012

Poemário orçamental [5]


Um resgate inevitável:
o cenário mais indicado
depois dos juros da dívida
terem assumido um novo máximo
na realidade do nosso amor
.
MG 2012

quarta-feira, maio 30, 2012

Poemário orçamental [4]

Merecias apenas
este poema mínimo,
a remuneração
mais baixa que por lei
estava obrigado a pagar
pelo tempo e esforço gastos
na lavra do nosso amor
.
MG 2012

segunda-feira, maio 28, 2012

Poemário orçamental [3]



Gostava muito de dizer
que os seus poemas
actuavam à escala global
tinham potencial de crescimento
um valor de mercado
incomensurável
mas a verdade é que
sempre que os publicava
sentia-se a caminhar
a passos largos
em direcção ao colapso 
financeiro
.
MG 2012

Poemário orçamental [2]


Terás de inventar
uma resposta credível
quando o gerente de contas
te perguntar
para quê mais investimento
num poema que já não rende
.
MG 2012

Poemário orçamental [1]


Sempre que me
beijas os pés
a economia contrai-se
.
MG 2012

quarta-feira, maio 16, 2012

Poemário prostibular



Declaro o prostíbulo clandestinamente aberto.
Aquele que desejar possuir uma destas meninas, faça o favor de dizer.

Título: Poemário prostibular
Edição de autor / 100 exemplares numerados
Encomendas: miguelangelogodinho@gmail.com / 7,00€

sexta-feira, maio 11, 2012

rascunhos [3]


a vida
cada vez mais
um arranhão
uma queda serena
em direcção ao charco

admito: é tarde agora
e estou cansado do lodo
do silêncio pardo
das horas
.
MG 2012

quarta-feira, maio 09, 2012

rascunhos [2]


É fácil erguer uma catedral
mais difícil é construir
um poema
.
MG 2012

rascunhos [1]

À noite todas as horas
tomam conta de mim
de mansinho
os assombros
revelações violentas
línguas torcidas
dentro da boca
palavras soltas
a poesia selvagem
da lua infiltrada
pelo dorso das marés

fazes-me falta, sabias

terça-feira, maio 01, 2012

Poemário prostibular

Disponível a partir da próxima semana.
.

Título: Poemário prostibular
Edição de autor / 100 exemplares numerados
Encomendas: miguelangelogodinho@gmail.com / 7,00€